Mais um paciente com Mal de Chagas foi submetido hoje a um procedimento cirúrgico com células-tronco no Hospital Santa Izabel, em Salvador. A cirurgia feita pela equipe do doutor Ricardo Ribeiro (da Fundação Osvaldo Cruz), demorou menos de três horas e integra a segunda etapa da pesquisa nacional que avalia o uso de células-tronco no tratamento de doenças do coração, patrocinada pelo Ministério da Saúde.
A técnica, testada nos últimos três anos em trinta chagásicos baianos, consiste em retirar células-tronco da medula óssea do paciente e injetá-las diretamente no coração dele. As células-tronco demostraram a capacidade de regenerar o músculo cardíaco em pouco tempo.
O primeiro paciente dessa segunda fase (a identidade foi preservada) é voluntário, tem 53 anos e Mal de Chagas em estado avançado. A doença é provocada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, transmitido pelo inseto conhecido popularmente como "barbeiro", que causa insuficiência cardíaca e pode levar à morte.
Os médicos retiraram cerca de 60 mililitros de líquido da medula óssea e injetaram entre 300 mil e três milhões de células-tronco no seu coração. Se tudo der certo, em um mês o paciente deve começar a apresentar melhoras. Essa recuperação será comparada com os resultados de pacientes com Mal de Chagas tratados da maneira convencional, pois o objetivo dessa etapa do projeto é avaliar as vantagens do novo tratamento.
Segundo o hematologista Augusto Mota, que faz parte da equipe do professor Ricardo Ribeiro, é bem provável que em dois anos os treze centros de todo o Brasil que integram a rede de pesquisadores já tenham concluído o estudo. No total 1.200 pacientes (300 da Bahia) que sofrem de quatro tipos de cardiopatias (infarto agudo do miocárdio, doença isquêmica crônica do coração, cardiomiopatia dilatada e cardiopatia chagásica) devem ser avaliados no estudo, o maior do gênero no mundo, destacou Mota.
Há uma grande lista de voluntários inscritos no programa para se submeter ao tratamento nesse período de estudo. "Todos estão sendo avaliados e serão escolhidos os que tiverem o grau de disfunção cardíaca que se presta ao uso das células-tronco", disse Mota. Desde o início da pesquisa a Bahia foi escolhida para o estudo do Mal de Chagas por ser o Estado com o maior número de pacientes com essa doença, cerca de dois milhões do total de seis milhões do País.