As chagas estão sangrando e o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), candidato derrotado na tentativa de se reeleger presidente da Câmara, num embate de forças e interesses jamais visto no Congresso nas últimas décadas, aos poucos vai mitigando o sentimento de amargura, talvez não pela derrota em si, contingência normal da vida pública, mas pelos métodos empregados na cristalização da triunfante hegemonia PMDB-PT.

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Rebelo não se permitiria o emprego de atitudes circenses para expor seus pensamentos, pois além de carregar na alma os valores duma formação à moda antiga, nunca esteve entre os que fazem questão de bradar aos céus a indignação que lhes corrói as entranhas. Ao contrário, procura contrapor às mazelas do exercício político, numa quadra que se estende para além do admissível, a paciência digna de patriarca bíblico.

Contudo, será impossível continuar empulhando a velha cepa sertaneja com as blandícias sempre utilizadas em tempos de traição de companheiros leais. Rebelo não esconde a mágoa de ter sido atropelado pela brigada ligeira capitaneada pelo deputado Arlindo Chinaglia, afinal eleito presidente da Casa, a cavaleiro de um esquema solidificado pela cobertura maciça do PMDB.

Comportamento tanto mais estranhável, porquanto o PMDB conta com a maior bancada da Câmara e, por esse motivo, com direito a reivindicar obediência à tradição regimental e eleger o presidente da Casa. O gargalo é que o posto, mesmo considerada a importância da linha sucessória (o presidente da Câmara assume a presidência da República no impedimento eventual ou definitivo de seus titulares), não é visto por esse prisma pelos caciques, cuja sobrevida depende de nomeações para o ministério e empresas estatais de primeira linha.

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Foi contra essa turma que Rebelo lutou e perdeu, mesmo com o sopro de decência e aeração trazido pela candidatura independente de Gustavo Fruet. Poupando o presidente Lula, um lídimo Pilatos deslustrado em sua aura de chefe de governo, que ansiava outro desfecho, Rebelo não tem a mesma bonomia com ministros e governadores pelos quais – assegura – foi literalmente massacrado.