PAC privado

Enquanto o governo ensaia os primeiros passos do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, a iniciativa privada, sem um plano geral, mas com expectativas e necessidades diversas, decide investir mais. Está aplicando mais no primeiro semestre de 2007 do que no anterior. E há disposição para maior expansão entre julho e setembro. O PAC infelizmente começou com um enxame de sanguessugas avançando sobre os projetos já delineados, em busca de fatias dos investimentos previstos para serem engolidas por máfias como a da Gautama e o que mais logre descobrir a Operação Navalha da Polícia Federal. Mas ainda há tempo para impedir e, se nem tanto, diminuir o avanço da corrupção e ladroeira sobre os projetos desse plano, que é o pilar do segundo mandato de Lula.

A Fundação Getúlio Vargas, numa pesquisa denominada Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação – Quesitos Especiais, dá a boa notícia de que o empresariado quer investir mais. Mostra, entretanto, que a decisão de investir mais ou menos não é unânime. O levantamento foi feito entre os dias 2 e 30 de abril, com 1.075 empresas. Dentre as consultadas, 34% disseram que estavam fazendo mais investimentos nestes seis meses do que no último semestre do ano passado. Já 21% disseram exatamente o contrário: estão investindo menos. Para a segunda metade do ano, 34% dos entrevistados declaram que pretendem investir mais. No entanto, 14% pensam em reduzir o ritmo.

Os motivos do crescimento já experimentado, do encolhimento de uma parte do empresariado, do otimismo de outros para o próximo semestre e dos temores de alguns, variam e nada têm a ver com o PAC ou qualquer outra iniciativa do governo.

Alguns querem investir mais para aumentar sua capacidade de produção. Aproveitam a baixa do dólar frente ao real para importar a preços melhores novos equipamentos. Outros pensam em ir substituindo o mercado externo, cujos frutos encolhem com a desvalorização do dólar, por uma expansão de atividades no mercado interno. A busca de maior competitividade também está motivando o empresariado, pois é preciso encontrar alguma saída para a concorrência desleal da China, onde produtos são industrializados por uma mão-de-obra que trabalha e é remunerada como se fosse escrava. Por isso, podem invadir o mercado mundial com sapatos e outros produtos que também exportamos a preços irrisórios.

É de se notar que, numa análise de efeitos positivos, a interação entre o governo e a iniciativa privada é algo incompreensível ou mesmo quase inexistente. O governo tropeça em empecilhos como a crise moral, as dificuldades políticas e o retorno dos escândalos a emperrar o andamento de seus projetos, inclusive o do PAC. E a iniciativa privada, na contramão, parece disposta a crescer, pois não espera nada de bom do governo. Mas quer reduzir o que há de ruim. As empresas, como revela o trabalho da Fundação Getúlio Vargas, apontaram a alta carga tributária (49%) como um empecilho importante para realizar investimentos no atual exercício. Têm ainda dúvidas com relação ao comportamento da demanda (34%) e sobre o custo do financiamento (18%).

Só há uma unanimidade: o empresariado reclamou, reclama e continuará reclamando da carga tributária, pois ela representa um peso excessivo sobre o custo dos nossos produtos. O governo leva a maior parte. O que sobra é dividido entre os integrantes da corrente produtiva. E podemos imaginar o que pensa lá com seus botões um empresário que se vê assim saqueado na cobrança de impostos quando, ligando a televisão ou abrindo os jornais, toma conhecimento de escândalos como os revelados pela Operação Navalha, em que aparecem envolvidos falsos empresários, deputados, senadores, altos funcionários, prefeitos, governadores e até ministros, todos dividindo entre si o dinheiro surrupiado e que poderia estar sendo usado para aumentar a produção, reduzir preços e gerar novos empregos.

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