Ouvir a sociedade

Aos poucos, sem fazer cerimônia, os empresários ecoam suas impressões sobre os tardios lampejos desenvolvimentistas do governo. E, como demonstrar falta de entusiasmo com os planos de Brasília seria deselegante, os empresários compensam a virtual desatenção lembrando que as medidas anunciadas até o momento não estimulam o investimento.

Uma delas é a isenção do Imposto de Renda (IR) e da Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL) dos fundos de investimento em infra-estrutura, já admitida pela área econômica do governo. Para os empresários, as primeiras medidas são boas, mas devem ser seguidas por providências concretas nos campos da segurança jurídica e da burocracia para a obtenção de licenciamento ambiental dos projetos de infra-estrutura.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ouviu isso de pesos-pesados do setor em almoço oferecido pela Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústria de Base (Abdib), em São Paulo. O presidente da instituição, Maurício Stolle Bahr, revelou ao ministro que os empresários estão otimistas, mesmo ante a indefinição dos órgãos ambientais quanto ao licenciamento de inúmeros projetos que dependem da formalidade para se iniciar.

A política ambientalista do governo Lula é um complicador, o reconhecimento é tácito, para o relacionamento produtivo pretendido com o setor de infra-estrutura e indústria de base. Mantega ratificou a posição assumida pelo próprio presidente Lula no sentido de amenizar a legislação em vigor, a fim de destravar os processos de licenciamento, contornando inclusive a superposição de marcos regulatórios federais, estaduais ou municipais.

Não será fácil, porém, a tarefa a que se propõe o governo, tendo em vista o forte apelo emocional que a causa ambientalista desperta na maioria. Aliás, o governo mesmo sempre exaltou a política ambiental como uma espécie de atestado de virtude e, agora, pagaria preço bastante elevado na tentativa de conquistar a simpatia da massa para projetos que podem causar danos ao meio ambiente.

O País precisa crescer e tanto o governo quanto os investidores sabem onde o sapato aperta. As condições estão dadas, como se afeiçoaram a declarar autoridades do governo. Mas, não será demais ouvir a sociedade.

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