Outra reforma?

Para sair da crise em que se atola dia após dia, o governo do presidente Lula imagina outra reforma ministerial. Estaria para criar, conforme se anuncia em Brasília, um Ministério da Administração e outro Ministério do Desenvolvimento – o primeiro desmembrado do Ministério do Planejamento, do Orçamento e Gestão e o segundo tirado do Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio. A idéia, segundo se diz, é dar um “chacoalhão” no governo, paralisado desde a última reforma, em janeiro, quando, em seguida, estourou o Waldogate, esse escândalo que ainda não terminou de gerar dissabores e más surpresas.

A sacudida no governo é necessária, não há dúvidas. Até o PMDB adesista está sabendo disso. Tanto que, seguindo um velho vício seu, continua no governo fazendo condicionamentos – o principal deles a exigência de que haja trabalho sério para a promoção do desenvolvimento, da geração de empregos e da saída do imobilismo. Se a “ousadia” que pede o ex-maior partido do Ocidente não acontecer, “é claro que não há razão para o apoio partidário, que não é condicionado a cargos”, diz uma nota assinada pelo presidente Michel Temer.

A posição inesperada do PMDB decerto doeu fundo nas entranhas da estrela. Ela sucede aquela do PL e do próprio PT, irrequieto e perdido como cego em noite de tiroteio. Mas o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, não se deu por vencido e dissimulou um muxoxo. Disse que ela está em “sintonia” com a política econômica do governo, e que são “sugestões viáveis e factíveis” que, se implementadas, vão permitir ao País combater a inflação e criar empregos. Bingo! Se fosse assim fácil, o “espetáculo do crescimento” prometido por Lula já teria começado.

Sabem todos em Brasília que se as coisas estivessem andando bem, o caso Waldomiro, apesar do veneno letal que encerra, não teria assumido tanta importância. Por isso essa insistência, iniciada pelo próprio PT, na produção de fatos novos. O presidente Lula, pelo visto, também pensa assim. Tanto que uma das primeiras medidas suas foi fechar os bingos através de uma medida provisória que, pelo que se observa, terá muita dificuldade de passar, como está redigida, no Congresso. A própria base do governo já atirou a votação para a semana que vem. Além do volume de recursos que a jogatina regulamentada pode trazer ao governo, não é próprio da democracia – dizem alguns – desmontar-se uma atividade que envolve cem mil pessoas apenas com uma canetada presidencial. Ademais, a Caixa Econômica Federal administra inúmeros outros jogos. Por que não o bingo?

À busca de outros fatos novos, surge esse da criação de novos ministérios. Dizem até que eles configurariam antiga aspiração de Lula, que já os tinha no bolso do colete desde a época da transição. Pode ser. Mas a pergunta que se impõe nem é o que, de fato, seria feito com novas estruturas que não poderia ser feito com as atuais, mas qual a vantagem prática disso enquanto o problema continuar em casa, sem solução. Isto é, enquanto o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, continuar em sua redoma de aço, a impedir a transparência dos fatos que, queira ele ou não, aconteceram sob suas barbas, para não dizer sob suas ordens. A nosso aviso, pode o presidente Lula criar quantos novos ministérios quiser e o problema persistirá (e se agravará) enquanto não for desfeito o nó principal dessa meada.

Pior. A conclusão da sindicância ordenada pelo Planalto para investigar algumas obras de Waldomiro Diniz acaba de gerar mais dúvidas que certezas acerca da inocência alegada pelo “capitão do time”. Ao não ouvir o ministro, chefe imediato do meliante, os autores da investigação negaram-lhe uma oportunidade de ouro para que esclarecesse alguns incômodos fatos. Dirceu não é divindade acima do bem e do mal. E isso apenas reforça a dúvida inicial – martírio contínuo de um governo em parafuso, ao que parece por ter muito medo da verdade. Só isso. Transparência seria a única reforma capaz de salvar o governo e, naturalmente, também os governados, dessa desastrosa paralisia que já se aproxima do segundo mês.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo