Ao rebater hoje às críticas feitas pelo PT às mudanças de última hora apresentadas ao relatório da CPI dos Correios, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) admitiu que algumas alterações atenderam a reivindicações de políticos. Momentos antes do relatório final ser votado ontem pela CPI, o relator apresentou 35 alterações ao todo, retirando o pedido de indiciamento de pelo menos uma dezena de pessoas envolvidas em supostas irregularidades com o sistema de franquias dos Correios o Instituto de Resseguros do Brasil e o mensalão. Os petistas alegaram que essas alterações feitas por Serraglio somam R$ 1 bilhão.
"Não podem imaginar que o relator é bobo e achar que vão implantar nos documentos esse número e dizer que tinha isso e eu tirei. Nós não encobrimos nada", afirmou Serraglio. Irritado, o relator fez questão de lembrar que o relatório paralelo do PT poupava de qualquer investigação a Prece, fundo de pensão da Companhia Estadual de Água e Abastecimento (Cedae) do Rio de Janeiro.
"Nós não escondemos a Prece no nosso relatório. A Prece era um dos fundos mais comprometidos em irregularidades e eles o excluíram do relatório paralelo. Deve ser com a Prece que eles chegam a esse número de R$ 1 bilhão", ironizou Serraglio.
O relator reconheceu que retirou o nome de Armando Ferreira da Cunha e o do ex-deputado João Leite Neto do item do relatório que trata de franquias a pedido de um parlamentar do PFL, que preferiu não divulgar. Armando e João Leite são ligados a franquia Tamboré, em São Paulo. "Retiramos os nomes, mas não os excluímos das investigações que pedimos ao Ministério Público. Foi um parlamentar do PFL que me procurou e suscitou que houve uma visão concentrada em cima de uma franquia, a Tamboré, que não estava sendo tratada de forma equânime no relatório", disse Serraglio.
Ao defender as alterações feitas às pressas em seu relatório, Serraglio justificou que retirou o pedido de indiciamento do vice-governador de Minas Gerais, Clésio Andrade, com base no voto em separado apresentado pelo PT. "Inclui algumas coisas que consegui identificar no voto do PT. Foi o caso da retirada do pedido de indiciamento do Clésio e a inclusão do grupo Opportunity no relatório. Além disso, o Clésio Andrade foi colocado no relatório a partir de uma quebra de sigilo que não tínhamos", argumentou.
Serraglio disse ainda que retirou dos pedidos de indiciamento o nome do ex-presidente do Banco Brasil Cássio Casseb porque o crime estava prescrito. "Foi um erro jurídico", observou. Ele explicou que o atual presidente dos Correios, Jânio Pohren, fazia parte da lista de pedidos de indiciamentos por ter participado, em 2000, de uma comissão de licitação da estatal que não detectou a apresentação de certidão falsa de uma empresa Na última hora, o relator retirou os nomes dos integrantes dessa comissão da lista de indiciados. Serraglio afirmou ainda que ex-diretores do IRB, que tiveram seus nomes retirados dos pedidos de indiciamento, continuarão a ser investigados pelo Ministério Público.
Um dia depois da aprovação de seu relatório, Serraglio aproveitou hoje para fazer um desabafo e criticar o PT por ter apresentado um relatório paralelo. Disse que o partido não apresentou pontualmente as mudanças que pretendia fazer em seu relatório e que nunca quis, de fato, chegar a texto consensual. "Eles (petistas) tentaram me cozinhar e me enrolar. Eles vinham trabalhando para que a votação do relatório não acontecesse", disse Serraglio.