O presidente Luiz Inácio Lula da Silva corre o risco de responder a um processo de impeachment, caso o relatório paralelo do PT, que troca a tese do "mensalão" pela de caixa dois, seja aprovado. O alerta foi dado hoje pelo relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Serraglio afirmou que não pretende alterar o parecer final, que foi apresentado na semana passada. O documento deverá ser votado quarta-feira (05) e corre o risco de ser derrubado pelos governistas.
"A tese do PT é que o dinheiro do ‘valerioduto’ foi para o caixa dois. Se essa tese foi verdadeira, quer dizer que o dinheiro do caixa dois serviu, inclusive, para pagar a campanha do presidente Lula. Afinal, o dinheiro do ‘valerioduto’ foi em 2003 e 2004, quando o Lula já estava na Presidência. Ou seja, se eu aceitar esse raciocínio (trocar ‘mensalão’ por caixa dois), vou ter de pesar a caneta porque caixa dois foi usado para a campanha do presidente Lula. Se ficar caracterizado o caixa dois no texto, qualquer partido poderá, com base nesse relatório, entrar com um pedido de impeachment", afirmou hoje Serraglio.
Sem acordo e com o acirramento da disputa eleitoral, a expectativa é que governo e oposição partam para o tudo ou nada e briguem voto a voto na CPI dos Correios. Na prática, as divergências entre governo e oposição podem levar a CPI a terminar em pizza, sem aprovação de um relatório final com as conclusões das investigações feitas ao longo dos últimos dez meses. O parecer paralelo que é produzido pelo PT retira do texto a maioria dos 124 pedidos de indiciamento propostos pelo relator da CPI dos Correios. No documento paralelo do PT, os chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) da Presidência da República, Luiz Gushiken, e o ex-deputado José Dirceu (PT-SP) são poupados de ser indiciados. Ao mesmo tempo, o texto governista estabelece que a origem do "mensalão" remonta ao governo do hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que recebeu dinheiro de caixa dois na campanha à reeleição para o governo de Minas Gerais, em 1998, do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
"Indiciamento, só com prova colhida e contundente", disse a líder do PT no Senado, Ideli Salvati (SC). A estratégia de parte dos governistas que integram a CPI é derrubar o relatório de Serraglio e aprovar, no lugar, um substitutivo global, que é produzido pelo PT e poupa o governo de envolvimento no escândalo do "mensalão". Pelos cálculos do Planalto, o governo teria uma maioria frágil para rejeitar o relatório de Serraglio. A avaliação, no entanto, é que o governo não dispõe de votos suficientes para aprovar o relatório paralelo em produção pelo PT. Afinal, parlamentares do PP, PTB, PL e PMDB na comissão não estariam dispostos a aprovar o substitutivo petista, que aproveitará as partes do relatório de Serraglio que propõem a punição de dirigentes e políticos dos partidos.
"É muito difícil conseguirmos compor uma maioria em torno do relatório do Osmar Serraglio. Mas é mais difícil ainda o governo conseguir apoio para aprovar o relator do PT", observou o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). "Não vamos cair no jogo de desmontar o relatório de Serraglio. Afinal o relator foi bastante generoso com o presidente Lula", disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).