O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) anunciou hoje que citará no relatório final os nomes do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), e do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) como conhecedores do esquema do "mensalão". Serraglio decidiu ampliar o parecer em reação à pressão de aliados do governo para que ele retire do texto final o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Serraglio afirmou hoje que manterá o nome de Lula no documento final, que será apresentado em meados de março.
"O presidente Lula aproximou-se da negligência e, portanto, ele vai ser referido no relatório. O fato é que o presidente foi avisado sobre o ‘mensalão’ em duas oportunidades pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Não tem como esconder isso; não tem motivo para omitir isso do relatório final", afirmou. O relator da CPI dos Correios observou, no entanto, que não pretende responsabilizar o presidente pelo esquema de mesadas, operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. "Se o presidente está próximo da negligência significa que eu ainda não estou considerando responsabilizá-lo", completou.
Na avaliação de Serraglio, os partidos de oposição decidiram blindar Lula logo no início da CPI. "Houve um determinado momento que os partidos de oposição refletiram sobre a conveniência ou não de provocarem algo mais contundente contra o presidente Lula. Isso é um juízo político; é um juízo de conveniência e oportunidade. Não de justiça", disse. Para o relator da CPI, Lula fez "o que lhe competia", que foi repassar a responsabilidade para "à instância seguinte", que, no caso, era o então chefe da Secretaria de Coordenação Política da Presidência, Rebelo.
Serraglio afirmou que o nome do presidente da Câmara constará no relatório final da comissão porque Lula avisou-o, segundo depoimento de Jefferson, sobre o esquema do "mensalão". "No relatório, vai constar que o presidente Lula tomou ciência do ‘mensalão’ através do deputado Roberto Jefferson e que ele (Lula) passou essa responsabilidade ao ministro Aldo Rebelo", disse. Assim como Lula, Rebelo não será responsabilizado no relatório da CPI.
Já o nome de João Paulo será incluído porque o petista abriu uma sindicância quando era presidente da Câmara para apurar a denúncia do "mensalão". "O João Paulo e o Aldo são pessoas que, na seqüência do presidente Lula, tomaram conhecimento da existência do ‘mensalão’", disse o relator. João Paulo foi um dos 18 deputados citados no relatório parcial da CPI por suposto envolvimento no escândalo do "mensalão". A mulher do petista, Márcia, sacou R$ 50 mil de conta de Valério na agência do Banco Rural de Brasília. O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara analisa o pedido de cassação de João Paulo.