O relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), apresentou hoje documentos sigilosos sobre a movimentação financeira do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para sustentar a versão de que foi utilizado dinheiro público no esquema de repasse de recursos públicos ao PT. Serraglio entregou à imprensa cópias de extratos de conta da empresa DNA no Banco do Brasil e de um contrato de empréstimo feito pela empresa Rogério Lanza Tolentino e Associados Ltda, do qual Valério foi avalista.
Na semana passada, o relator apresentou um organograma com base na documentação recebida mostrando a transferência de R$ 35 milhões da empresa Visanet para a DNA Propaganda, em 12 de março de 2004, para uma conta do Banco do Brasil. Os principais acionistas da Visanet são o Banco do Brasil, o Bradesco e o ABN-Amro Bank. Segundo Serraglio, o Banco do Brasil detém um terço do total da publicidade feita para a Visanet.
Os extratos bancários apresentados por Serraglio mostram que, em 15 de março de 2004, a DNA fez uma aplicação de R$ 34.867.000 na conta 602.000-03 da agência 3608 do Banco do Brasil. Serraglio ressaltou que o saldo dessa conta, no dia 27 de fevereiro de 2004, era zero.
Para ele, esse extrato desmonta as afirmações de Marcos Valério de que teria saldo em caixa para realizar o empréstimo de R$ 10 milhões para a empresa Rogério Tolentino e Associados Ltda. O segundo extrato, da mesma conta, mostra um resgate de R$ 10.038.000. No mesmo dia foi feita uma transferência eletrônica de R$ 10 milhões para o Banco de Minas Gerais (BMG).
De acordo com Serraglio, os recursos foram utilizados na compra de CDBs (títulos bancários), utilizados como garantia para o empréstimo feito por Rogério Tolentino. Na cópia do contrato entregue pela CPMI à imprensa, a garantia de pagamento do empréstimo realizado está determinada como "penhor de títulos e outras avenças". O avalista é Marcos Valério de Souza.
Diante de tantas contradições nas informações prestadas pelo empresário à CPMI desde o início das investigações, Serraglio questionou os novos dados repassados por Valério à comissão sobre a prestação de serviços da DNA para a Visanet. "É uma sustentação muito frágil, mandaram documentação referente a 2005 sendo que estamos investigando 2003 e 2004", afirmou o relator.
Entre as notas fiscais da DNA apreendidas em Belo Horizonte quando eram queimadas na casa do irmão do contador de Marcos Valério, a CPMI detectou uma repassada para a Visanet, no valor de R$ 6,5 milhões. Como eram várias notas, o relator escolheu 27, de forma aleatória. Destas, segundo ele, 11 não tinham sido contabilizadas.
"Vamos pedir mais uma fiscalização da Receita Federal sobre as contas da DNA Propaganda", disse Serraglio. Ele ressaltou que a empresa só foi apresentar um livro de registros contábeis em setembro deste ano. Já a SMPB, a 2S e a Grafiti, outras empresas de Valério, não têm qualquer registro contábil disse o relator.