O governo federal deve enfrentar mais dificuldades nos próximos dias. A entrega do relatório final da CPI dos Correios, que será apresentado terça-feira (28) não vai poupar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o relator da CPMI, deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR), que esteve hoje em Curitiba, Lula ficou sabendo disso em pelo menos duas oportunidades.
"Além do que foi relatado pelo ex-deputado Roberto Jéfferson, há também um depoimento do ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha nesse sentido", disse. Apesar disso, Serraglio não confirmou se o presidente será citado por omissão no escândalo do valerioduto, que envolveu cerca de R$ 2 bilhões.
Pressionado por oposicionistas e governistas, Serraglio prevê uma votação disputada entre os 16 senadores e 16 deputados federais da comissão mista. "Aqueles que acham que eu deveria aliviar a situação de alguém ou algum grupo no relatório com certeza votarão contra", disse, indicando que não cederá. "Não quero sair da CPI com a pecha de prevaricador. Nada será encoberto e todas as coisas que soubemos serão divulgadas. Os deputados que forem contrários deverão arcar com suas responsabilidades", afirmou, lembrando que a votação será equilibrada e deve ter uma diferença de dois a três votos.
O relatório, com duas mil páginas, cita outros 19 parlamentares que foram investigados anteriormente. Mesmo assim, o número poderá crescer com a investigação dos assessores e pessoas citadas pelo relatório. "Após a aprovação, ele será encaminhado para diversos órgãos, entre eles, o Ministério Público, que possivelmente vai investigar esses assessores parlamentares e é provável que o número de pessoas envolvidas aumente", disse.
De acordo com Serraglio, o relatório sugere alguns indiciamentos, indica pessoas próximas do indiciamento e outro grupo merece investigação maior para ser indiciado. "Não falarei nomes ou números agora. Tudo estará no relatório final com as sugestões."
Criada em junho do ano passado, a CPI quebrou o sigilo de 300 pessoas e passou por dificuldades. Para Serraglio, os maiores obstáculos foram gerados pelos bancos e também pela criação da CPI do Mensalão. "Quando perceberam que iríamos pedir a quebra de diversos sigilos criaram outra CPI. Com relação aos bancos, eles poderiam ter facilitado mais o acesso aos arquivos, pois teríamos as provas documentais."
Cotado para ser vice na chapa do governador Roberto Requião (PMDB-PR), Serraglio admitiu que em alguns momentos esteve cético em relação aos trabalhos da CPI e que espera pela punição dos responsáveis. "Pedimos duas vezes a prisão de Marcos Valério, por obstrução das provas e por mudanças na contabilidade, mas isso não resolveu. Nem dólar na cueca foi considerado prova", completou.