Entre Curitiba e Palmeira não são contados cem quilômetros. Num trecho, com diferença menor de quarenta quilômetros, existem duas praças de pedágio – uma nas imediações de São Luiz do Purunã, onde a estrada tem pista dupla, e outra logo adiante, na direção de Foz do Iguaçu, sobre a BR-277, já em pista única e estreita. Na primeira praça paga-se R$ 3,00 por veículo de passeio; na segunda, R$ 3,70. Isso significa dizer que para ir a Palmeira e voltar (ou vice-versa), o contribuinte é submetido a um achaque de R$ 13,40. Quem faz isso todos os dias, deixa ali quase cem reais por semana; ou quatrocentos por mês.
Mas existem os que não pagam. Nada. Nem na ida, nem na volta. Deputado, por exemplo. E nem precisa que esteja em veículo oficial. Pode estar com veículo particular ou de terceiro. Até mesmo carro usado em campanha eleitoral, cheio de propaganda política em noite escura de chuva e neblina. Basta que passe no lugar adequado e ostente documento comprovando que ele é parlamentar. Se, por qualquer descuido, o “carro oficial” embicar na catraca “comercial”, quem estiver atrás será gentilmente convidado a dar marcha à ré para que o privilegiado cidadão da frente possa manobrar e, assim, passar ileso pela pista dos que não pagam.
Os altos custos do pedágio nas rodovias paranaenses desapareceram momentaneamente do debate político. Nem por isso deixaram de incomodar viandantes que passaram a se perguntar os motivos desse súbito desinteresse por um tema tão atual e importante. E as causas buscadas podem estar em algo muito mais desastroso para consciências cívicas do que a simples inapetência de políticos por uma discussão que enfrenta poderosos interesses.
O leitor pode não acreditar, mas-querendo – deputado algum paga pedágio no chamado anel de integração do Paraná. Mesmo aqueles da oposição ao atual governo do Estado livram-se-igualmente querendo – das tarifas-escondidos atrás da delegação que os eleitores lhes confiaram nas urnas. Sendo mais claro, basta que pratiquem o carteiraço. É uma prática condenável sob todos os aspectos, mesmo porque insinua a possibilidade de acerto entre as concessionárias e os parlamentares que, na condição de fiscais do povo, calam-se diante dos abusos a que este é submetido com a complacência do Estado.
Vai daí que, além de injusto e abusivo no preço, o pedágio nas estradas paranaenses é, também, injusto na aplicação-seja com tarifas mais caras onde a estrada é mais estreita, seja na concessão de privilégios exatamente a quem tem o dever constitucional da vigilância contra as injustiças. Formalmente, as concessionárias informam que estão isentos apenas veículos oficiais e policiais em serviço. Na prática, o que vale é o carteiraço, não importando de quem é o carro particular, a serviço de quem esteja ou quem esteja ao volante.
Há coisas que só a ironia resolve. Como esta, por exemplo: quem já estiver cansado de pagar pedágio, basta que ande com seu deputado preferido a tiracolo (vereador ainda não se sabe se funciona). Pode ser no seu carro, mas melhor que seja no carro dele. Em qualquer caso, esteja certo de que o parlamentar carrega consigo alguma carteirinha especial. Com certeza, o trânsito será livre e isento de assaltos. Os sem-deputado pagam a parte deles.