A democracia não prescinde dos políticos. E muitos políticos não prescindem da demagogia. A morte de um papa ironicamente é para tais políticos uma ocasião de ouro. A tristeza do fato, a dor da perda, a repercussão do evento, tudo de triste que a morte do papa significa ensejam atos e expressões demagógicas de políticos de vários países do mundo, muitos deles chefes de Estado e nem todos católicos.
É o que está acontecendo com um George Bush, arquiteto do eixo do mal que pôs nas mãos de inimigos verdadeiros ou inventados. O que ocorre com Tony Blair, da Grã-Bretanha, que se aliou a Bush numa guerra sangrenta e estribada em motivos falsos, mentirosos, para massacrar um povo árabe muçulmano. Estes e outros chefes de Estado, inclusive o direitista Silvio Berlusconi, da Itália, participaram do eixo do mal guerreiro e hoje derramam lágrimas de crocodilo enquanto aguardam a eleição do novo pontífice, com o qual certamente procurarão as melhores relações para amealhar dividendos, que, de acordo com dom Eusébio Scheidt, arcebispo do Rio de Janeiro, serão colhidos pelo nosso presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de não se entender muito bem com o Espírito Santo, inspirador da sucessão no Vaticano.
Não há muita similaridade entre a doutrina da Igreja abraçada e pregada pelo papa João Paulo II e a praticada pelo católico Lula. Aquele parece, considerando-se o que é o pensamento progressista da Igreja, um conservador. Este prega e promove avanços que, se não têm a ousadia de aprovar o casamento homossexual, já se afiguram passos que muita gente acredita que um dia a Igreja irá trilhar. Apesar das críticas do arcebispo do Rio a Lula, quando lhe perguntaram se o fato de o Brasil ter um presidente operário não seria recomendação para termos um papa brasileiro ou, no mínimo, sul-americano, o cardeal descartou. Lula é católico de araque, como a maioria de nossos conterrâneos, que misturam espiritismo, baixo espiritismo, crendices as mais variadas, mas na hora de preencher a ficha do IBGE declaram-se católicos, apostólicos, romanos. Nem sabem bem o que é isso. Aceitemos com condescendência a presença de Lula, acompanhado da esposa, dos presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo e ainda de ex-presidentes da República, como FHC e José Sarney, nos funerais do santo padre. É mais uma exibição demagógica do que de fé. Ostentatória porque a viagem foi feita no luxuoso e caríssimo avião da Presidência, para dar impressão ao mundo que não economizamos quando é para reverenciar o papa. E há uma justificativa, além da religiosa. O Vaticano é um Estado e Lula um chefe de Estado, bem como Bush, Blair e tantos outros que desembarcaram em Roma.
Como diz dom Eusébio Scheidt, Lula tira proveito político indo a Roma. Mas, candidato a papa, que tire o cavalo da chuva, pois é casado, apesar de batizado. E o colégio eleitoral dos cardeais, inspirado pelo Espírito Santo, com quem não se entende bem o atual presidente do Brasil, aceita-o como devoto. Mas rejeita seu voto.
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