O PT não cresceu, dividiu-se. Já era pequeno para governar, razão por que fez diversos acordos, abrigando no que se convencionou chamar de base situacionista partidos programaticamente opostos, como o PL e agremiações com prática de poder, e de encolher, como o PMDB. Ainda alianças outras.
Hoje, temos no mínimo dois PTs, se desconsiderarmos aquele que, por ser demasiado ortodoxo, foi expurgado durante a votação da reforma da Previdência. O PT que insiste em mudanças na política econômica e o que se entrega a Lula e o cerca, sem considerações programáticas ou ideológicas. E aí estão até homens que já pertenceram ao grupo histórico da agremiação, inclusive o presidente do diretório nacional, José Genoino.
A prefeita Marta Suplicy, discursando em recente encontro do diretório nacional do PT, declarou que vê parcela de culpa da política econômica do presidente Lula em sua derrota como candidata à reeleição. Na opinião dela, que teve apoio explícito do presidente em sua campanha, houve "deterioração do poder aquisitivo dos setores populares, incluídos os setores médios".
"Repercutiu nas eleições o desgaste do governo federal por conta dos fatores políticos, midiáticos e sociais próprios à conjuntura nacional", disse Marta no seu discurso.
É certo que há uma luta intestina no partido do presidente. Há os que insistem, como fez o ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa, até ser defenestrado, num governo nacionalista. E os que apóiam Lula e seu governo em qualquer hipótese. Dentre estes está o presidente do diretório nacional, José Genoino. Este apóio significa a sustentação da política econômica do ministro Antônio Palocci, caracterizada pela priorização do pagamento da dívida externa, em detrimento dos investimentos no desenvolvimento econômico e social do País.
Os resultados adversos das eleições municipais e a posição contrária à atual política econômica levam também grupos de aliados a se movimentarem no sentido de deixar a coalizão. Esse movimento é maior, principalmente, no PMDB. Um forte grupo peemedebista insiste em romper com o governo e levar o partido a caminhos próprios. Outro tem sido atraído por Lula, que lhe ofereceu um jantar na semana passada, quando cogitou-se de dar-lhe mais um ministério e outros cargos no governo. O preço da continuidade do apoio iria ainda a um acordo prévio para as próximas eleições, quando o PT se comprometeria em apoiar os candidatos peemedebistas, onde estes fossem mais fortes. E vice-versa.
O diretório nacional, afirma José Genoino, não irá pedir a mudança da política econômica e, oficialmente, aceita como petistas tanto os que continuam ao lado de Lula, como os que abertamente a ele já se opõem. Em deliberação do último domingo, o diretório decidiu isentar Lula das culpas que lhe inquina Marta Suplicy e, no máximo, admitiu discutir, sem se opor diretamente, a política econômica. Essa política de "tudo pelo poder" está levando até a um acordo com o PP malufista, que deverá participar da administração federal.
O que escapa a Lula em suas preocupações com a governabilidade é que está aceitando que o seu governo se afaste tanto de seu ideário original, aquele que o alçou ao poder, que poderá ficar em posição de desembarque. No próximo pleito, o povo poderá perceber que não elegeu um Partido dos Trabalhadores, mas uma porção de correntes e agremiações sem unidade programática e, por isso mesmo, incapaz de resolver os problemas brasileiros.