Os juros básicos nos Estados Unidos subiram de 1,50% para 1,75%. No primeiro e baixíssimo patamar, de 1%, minúsculo se comparado às taxas praticadas no Brasil, ficou por anos. A política do governo norte-americano, mantendo baixos os juros, foi um esforço para a retomada do desenvolvimento, pois aquele país, dono da maior economia do mundo, apresentava um sensível processo de recessão, com todas as suas conseqüências, inclusive o desemprego.
Uma economia gigantesca como aquela não pode se dar ao luxo de parar de crescer e isso foi verificado com a retração da demanda. O povo parou de comprar nos níveis usuais, o comércio parou de vender e a indústria de produzir. Isso tem conseqüências políticas. O crescimento econômico fez a boa fama de Clinton e ia pondo por terra os sonhos de reeleição do belicoso Bush.
E nós com isso?
O Brasil e o resto do mundo têm muito a ver com o comportamento dos juros nos Estados Unidos. E mais têm a ver os países ditos emergentes, que são grandes captadores de capitais, que têm fome de dinheiro. Precisam dos investimentos internacionais para a rolagem de suas dívidas e para investimentos diretos, que produzam o desenvolvimento que não conseguem construir com suas próprias pernas. São países com imensas necessidades, baixo crescimento, poucos empregos, produção insuficiente e, em alguns casos, como o nosso, até fome sofrida por parcela expressiva da população. São países com baixos índices de poupança. Não guardam dinheiro suficiente para investimentos e, por isso, são sedentos das aplicações, ou seja, das poupanças de outros povos.
Mas quando aqui pagam juros básicos acima de 16%, e já foram bem acima de 20%, como entender que um investidor estrangeiro ou multinacional, geralmente grandes fundos, iria preferir a ninharia de 1,5% ou 1,75% pagos nos EUA?
Em primeiro lugar, temos de entender que economias como a norte-americana, desenvolvidas, aplicam a maior parte do dinheiro em ações, ou seja, em capital de risco e não no mercado financeiro, na ciranda. Lá, é preferível ter pedaços de empresas, ações, que créditos em instituições financeiras. Mas as aplicações financeiras também existem e são gigantescas. Aí, valem os juros, que têm de ser os mais altos que possam ser encontrados, desde que o captador ofereça segurança, garantias.
Uma elevação de 0,25% nos juros dos Estados Unidos pode convencer a muitos investidores que, sendo a economia ianque mais confiável e a do Brasil ou de outros emergentes, de segurança precária, é melhor apostar no certo do que no duvidoso. É melhor ganhar menos, mas com certeza de que o dinheiro vai voltar, do que aplicar recebendo altas taxas de juros, mas arriscando-se a um calote ou moratória.
São muitos os países disputando fatias do mesmo dinheiro. O dinheiro da especulação, dos investimentos financeiros e dos diretos, de capitais. E quem oferece maior remuneração, com segurança, leva a parte do leão.
Esta atual elevação da taxa de juros nos Estados Unidos não é suficiente para nos assustar, mas um alerta para que sigamos firmes no cumprimento de nossas obrigações financeiras nacionais e internacionais. E, principalmente, que sejamos competentes para promover um desenvolvimento econômico constante e que um dia possa se sustentar pelas próprias pernas.
