Os fins e os meios

Numa antecipação do que será a convenção de junho, o PT realizou em São Paulo, no último final de semana, o 13.º Encontro Nacional, com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da cúpula dirigente da agremiação, vários ministros e mais de 1,2 mil delegados de todo o País. Um bálsamo para alguns companheiros que andavam um tanto ariscos e queimados do ponto de vista do pragmatismo petista, como o ex-presidente José Genoino, que ao aproveitar o ensejo para rever os amigos e ter mencionado o seu nome, acabou aplaudido de pé.

Dispensados os ademanes de ordem afetiva e com os pés tanto quanto é possível mantê-los firmes no chão movediço da política, o PT tratou de juntar os cacos e afinar a orquestra antes do encerramento do prazo fixado pela legislação eleitoral, o fim de junho, para a realização das convenções nacional e nos estados.

Um dos objetivos do encontro era arrancar de Lula uma declaração incisiva da candidatura à reeleição, mas não se foi além do compromisso que a admissão somente será anunciada na virada de maio para junho. Portanto, o presidente terá ainda este mês inteiro para continuar viajando e, extremamente cuidadoso como tem sido até agora, desde que não caia na tentação de escancarar o pedido de votos às platéias que ?espontaneamente? são arregimentadas para as inaugurações, lançamentos de pedras fundamentais e assinaturas de convênios, não dará bandeira para os virtuais antagonistas aumentarem o tom das reclamações de campanha fora de época.

A nota destacada do 13.º Encontro Nacional foi a chancela juramentada pelo partido ao acatar a imposição explícita do presidente recomendando os entendimentos em torno de alianças eleitorais amplas e irrestritas, sem descartar os parceiros da coligação organizada para a campanha de 2002. Quando uma tímida faísca de lógica supunha que a direção petista, e o próprio Lula, emitissem sinais claros sobre o prejuízo incalculável que a coligação com PTB, PP e PL fez desabar sobre o partido, restringindo a associação partidária aos tradicionais aliados (PSB e PCdoB), viu-se que a atual versão do comando petista não abrirá mão da prática antes abominada como praga dos infernos, conquanto exercida pelos demais partidos. O PT, em pouco tempo, tornou-se perito na conjugação da nefanda máxima dos fins justificando os meios.

Não será debalde especular sobre a natureza ética das desculpas invocadas pelo marketing político da campanha petista, se é que isso chega a constituir uma preocupação, para justificar a presença nos palanques de Lula, Brasil afora, de personagens ainda determinantes em seus partidos, tais como Roberto Jefferson (PTB), Valdemar Costa Neto (PL) e José Janene (PP), embora esse possa alegar a grave enfermidade que o aflige e sair de fininho. O mesmo pensamento vale para as figuras da base denunciadas ao STF como operadores e beneficiários da organização criminosa chefiada pelo ex-ministro José Dirceu para se locupletar da grana do mensalão e do caixa dois.

Lula lidera as pesquisas de intenção de voto a cavaleiro de alguns bons resultados de sua administração no campo social e do aplauso globalizado à ortodoxia da política econômica. Não se sabe, porém, se tais amarras serão suficientes para conter o impacto negativo dos quadrilheiros na campanha da reeleição.

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