Os erros palmares do PT

O País ingressou em nova semana de atividades sob o impacto delirante de uma autêntica bomba arrasa-quarteirão, detonada na entrevista do ex-secretário do Partido dos Trabalhadores, Sílvio Pereira, publicada na edição dominical do jornal O Globo, e condensadamente por este jornal, com imediata repercussão na imprensa nacional desde os noticiários televisivos da noite anterior. Depois de permanecer em silêncio durante um ano, um dos personagens-chave do esquema citado pelo ex-deputado Roberto Jefferson, freqüentador habitual da Casa Civil, responsável pelo encaminhamento dos trâmites que resultaram na nomeação dos militantes indicados pelo PT e aliados em ministérios e empresas estatais, Silvinho resolveu botar a boca no trombone.

Afinal, este foi o primeiro integrante da cadeia centralizada em José Dirceu, seu nome está entre os quarenta relacionados na organização criminosa denunciada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, a encarar a crucial tarefa de entregar o serviço, mesmo sabendo de antemão que suas declarações seriam motivo de formidável processo de desqualificação e execração pública – teme a eliminação física – além de ser tachado como desequilibrado mental.

A cúpula da organização que encontrou no publicitário Marcos Valério, apresentado pelo deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG), o operador financeiro que se dispunha a levantar até R$ 1 bilhão junto a bancos e grandes empresas interessadas em licitações públicas federais, fato que não prosperou, segundo Silvinho, era formada por gente do calibre de Lula, José Dirceu, Aloizio Mercadante e José Genoino, ?um time do qual eu não estava à altura?. O problema é que a evolução de Marcos Valério escapou ao controle da direção do partido, e esta força o ex-secretário identificou no pesado esquema de corrupção onipresente no País, ainda vivo e atuante, intuindo a existência de uma centena de marcos valérios por trás do Marcos Valério em carne e osso. Aqui, foi louvável o esforço de livrar a cara de amigos do peito, como o ex-tesoureiro Delúbio Soares, amparado pelo razoável argumento de nem de longe possuir competência para, apenas com a assinatura, levantar empréstimo bancário de R$ 50 milhões.

Pereira admitiu como erros palmares o PT ter chamado Duda Mendonça para cuidar do marketing da campanha de Lula, em 2002, e em 2004, das campanhas municipais de São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Goiânia e Recife, acumulando uma dívida não paga de R$ 120 milhões, causa direta da quebra financeira do partido. Reconhecendo a incapacidade de exercer influência nas decisões internas do diretório nacional, mesmo sendo voto vencido foi contra a contratação de Duda e dos institutos Ibope e Vox Populi para fazer as pesquisas internas que a Fundação Perseu Abramo, órgão ligado ao PT, estava habilitada a cumprir, Sílvio fez uma constatação percuciente que requer claras explicações regionais: ?Conheço campanha, geralmente 70% são exageros, fantasias. Mas o diretório nacional assumiu?.

Tais inconfidências deixam os ex e atuais dirigentes do PT numa situação escabrosa. Mesmo Lula, a partir de agora, tem a obrigação moral, pela grandeza do cargo de presidente da República que pretende disputar pela segunda vez, de abandonar a estratégica posição de eqüidistância do espetacular naufrágio de seu partido, e dizer à nação o que realmente sabe sobre os rumores em torno de seu patrimônio ético.

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