Os bons não morrem

Conheci o comendador José Pedroso de Moraes há mais ou menos cinqüenta anos. Foi logo no início das suas atividades empresariais no ramo de móveis e tapetes. Naquela época, fazia ele, através do publicitário Victo Johnson, agressiva campanha de venda dos produtos que representava. Ao mesmo tempo, cuidava, também, do Clube Primavera, sua grande paixão. Nessa área, era amigo de excelentes locutores desportivos, como Airton Cordeiro, João Féder, Carneiro Neto e muitos outros.

Gostava de conceder entrevistas e eu mesmo o ouvi nas emissoras em que trabalhava: Tingüi, PRB-2, Cultura e Guairacá. Era um entusiasta. Parecia seguir o lema de que se deve ter arrojo para tudo. O importante não era só ganhar ou perder, mas lutar para vencer. E prova disso foram, além da fábrica que fundou, as diversas lojas especializadas que inaugurou.

A par de tudo isso ajudava, sem alardes, as pessoas que o procuravam. Era também católico fervoroso e colaborou na construção da Igreja do Divino Espírito Santo, na Rua Mateus Leme.

Certa feita, fomos jantar, e ele se mostrava desolado com algumas coisas da vida. Os seres humanos também sofrem. Os guerreiros mais audazes têm momentos de angústia, ainda que não desertem. Animei-o e lembrei-lhe de várias lições, inclusive de uma de Humberto de Campos, contada no livro Os párias, onde louvava a Deus afirmando que sempre tinha um ensinamento para ?os soberbos e um consolo para os humildes?, principalmente porque, embora cada pessoa pudesse ser uma espécie de planta rasteira e escondida, tinha ?a ventura de viver sem sustos e de ver passar no céu, sem o temor que têm os cedros da montanha, a foice do raio e a cólera da tempestade?…

Saímos do restaurante, fui levá-lo à sua residência e, no caminho, reanimado e alegre, parecia ter encontrado a esperança e a fé. O tempo passou. E Pedroso morreu. E agora, o seu corpo inanimado jazia rodeado por muitos amigos. Enquanto isso a sua digna família fazia publicar preito de saudade ao velho pai que ficaria na lembrança de todos. Acho que foi Olavo Bilac quem escreveu a respeito de Júpiter que, atendendo aos seus hospedeiros, deu-lhes o direito de um dia, depois da morte, serem transformados em poderosas árvores para entrelaçar os seus galhos, beijados pelo vento, à semelhança de ?afeição de braços amorosos?.

Ao sair do guardamento de José Pedroso de Moraes, lembrei-me de uma frase de Auguste Comte, o grande positivista: ?Os vivos seguem os mortos? por tudo aquilo que fizeram de bom na vida…

Osmann de Oliveira pertence ao Centro de Letras do Paraná. É advogado e diretor do Curso de Direito de Paranaguá.

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