O mundo corporativo se encantou pelo empreendedorismo e vice-versa. Executivos, diretores, gerentes e funcionários dos escalões inferiores já começam a sintonizar-se com o novo cenário empresarial, principalmente porque as companhias têm sido submetidas a um constante e célere processo de novas formas de gestão. Tais transformações utilizam-se de conceitos renovados de administração, marketing, tecnologia da informação, comunicação e relações públicas para, de alguma maneira, oxigenar o ambiente organizacional. As interligações e sobreposições entre idéias e mercados determinarão o profissional do futuro. Os artesãos dessa arquitetura vão compor um painel das questões mais polêmicas da cultura contemporânea e sepultar, de uma vez por todas, as práticas obsoletas e enraizadas no interior dos escritórios.

Ousadia, coragem, visão estratégica, capacidade de antever crises, paciência, audácia e tantos outros atributos embalam, incrementam e justificam a performance de sucesso dos líderes ou dos empreendedores das organizações mais avançadas. Há diversas razões para se acreditar nisso. As interfaces do ser humano com a máquina sintetizam e redimensionaram o pensamento, as imagens e os espaços conquistados. A concretização dessa natureza aparentemente híbrida, no entanto, terá de obedecer a um rito de passagem necessário, que consiste em conceituar e fortalecer o compromisso com o futuro, onde as pessoas estão sempre em primeiro lugar.

Para terror das mentes mais retrógradas e conservadoras, os processos vanguardistas reduziram os níveis hierárquicos e colocaram sob suspeita o antigo modelo de liderança. Trata-se de um contexto que valoriza o pragmatismo, enaltece a busca por resultados e possui capacidade de alavancar ou sepultar carreiras promissoras. É possível, sim, ser líder em qualquer circunstância, em que o detalhe, a atenção continuada para a qualidade e a iniciativa, dentre outras competências, é absolutamente essencial na condução e transição desse período.

Essa revolução se dá no exato instante em que a globalização sofre questionamentos nos quatro cantos do planeta. A fragilidade e as contradições do sistema político e econômico mundial fizeram da Terra uma selva quebradiça e deficiente. Diante desse quadro, a liderança moderna precisa se posicionar e se diferenciar no momento em que todos se parecem iguais. O possível e o sensato somente não bastam. O desafio maior visa equacionar eficiência e fortalecimento da coesão corporativa. É justamente nesse ponto que os líderes demonstram a vocação para mudar o rumo das coisas. A legitimação dessas práticas não se dá apenas por meio das palavras, uma vez que discurso e prática precisam estar encaixados na visão, missão e valores empresariais, ancoradas no dia-a-dia da organização. A consolidação desse olhar passa pela sintonia fina da relação com funcionários, parceiros, clientes, fornecedores, prestadores de serviço e de toda a cadeia produtiva que leva a empresa adiante.

A partir desse ponto, a liderança dispõe de recursos, sejam intelectuais ou materiais, para transformar esse pacote de boas intenções em vantagens competitivas, calcadas numa mentalidade ética, moral e responsável. Tais comportamentos são convertidos em benefícios no momento que o cenário de incertezas só agrava o quadro de desaceleração econômica. Em meio a esse ambiente, despontam novas frentes, tão urgentes quanto necessárias. Trata-se de esculpir um modelo inédito de gestão empresarial que requer o lucro e a produção estruturados, porém, sob outra ótica. Os modelos engajados unicamente na lógica financeira estão em extinção ou a caminho da morte. O talento tem de ser eliminado do centro de custos e alçado à planilha de investimentos. Tais atitudes trazem repercussões internas, agregam os funcionários e os tornam participantes dessa integração. O mundo corporativo deve estar receptivo e propenso a capitanear essa caminhada, como se fosse um projeto do coração. A sensibilidade para detectar esses detalhes será o fosso entre o sucesso e o fracasso empresarial.

Dessa maneira, dar visibilidade às ações e cercar-se dos impactos de suas atitudes são indicativos de que a infra-estrutura corporativa está sendo erguida em bases seguras. A competitividade não respeita aqueles que não inovam. O perfil renovado das empresas se sustenta em flexibilidade, segurança, agilidade nas respostas e interatividade nos relacionamentos. Os processos fragmentados e autoritários estão definitivamente sepultados. O trabalho em equipe, o estímulo à participação coletiva e a busca de novas maneiras de pensar e agir constituem-se num fator de sucesso do negócio. Todas essas pessoas se envolvem num processo de construção continuada, construtiva e irreversível. Essas empresas vão se tornar mais admiradas pela forma como interagem com seus diversos públicos. O líder que não estiver sintonizado com a postura globalizada, expandir esta lógica, despertar o interesse da organização, redimensionar hábitos e criar ambiente de transparência para circular as informações tem o destino marcado para sucumbir.

Júlio Sérgio de Souza Cardozo é presidente da Ernst& Young Auditores Independentes S.C.

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