Fortaleza (AE) – Passados mais de dois meses do escândalo dos dólares na cueca, ainda não se sabe de quem e nem para quem era o dinheiro apreendido, no Aeroporto de Congonhas (SP) com o ex-dirigente petista José Adalberto Vieira da Silva. Ele era assessor do deputado José Nobre Guimarães (PT), irmão do ex-presidente nacional do PT, José Genoino.
O caso, que ocorreu no dia 8 de julho, levou Genoino a renunciar à presidência do PT. Nobre Guimarães tem até o final desta semana para se explicar, por escrito, sobre duas denúncias contra ele na Assembléia Legislativa do Ceará. A primeira é com relação ao dinheiro apreendido com Adalberto – R$ 209 numa bolsa de nailon e mais US$ 100 mil escondidos na cueca. A outra diz respeito à lista do "mensalão".
O nome de Nobre Guimarães consta como um dos beneficiados pelo esquema operado pelo empresário Marcos Valério. Ele admite ter recebido R$ 250 mil, em abril de 2003, mas disse que foi via tesouraria nacional do PT e que a quantia foi utilizada para quitar dívidas de campanha de José Airton Cirilo, candidato petista ao governo cearense em 2002. Os valores só foram contabilizados na semana passada, quando o Diretório Estadual do PT entregou a retificação das contas da campanha à Justiça Eleitoral.
O deputado cearense disse estar "tranqüilo" e pretende entregar sua defesa nesta terça-feira (13). Com base nas explicações dadas pelo petista, o ouvidor da AL, deputado Antônio Granja (PSB), deverá pedir, num prazo de até cinco sessões ordinárias, a abertura de processo ou o arquivamento dos casos.
Já as investigações no Ministério Público Federal devem prosseguir até o final de outubro, segundo informou o procurador Alexandre Meireles. Ele está aguardando os depoimentos ouvidos através de carta precatória em São Paulo do empresário José Petronilho de Freitas, sócio da Cavan, e do advogado Paulo Guilherme.
De acordo com Meireles, há indícios de que o dinheiro apreendido com Adalberto seja propina resultante de um contrato do BNB com o consórcio Sistema de Transmissão do Nordeste (STN), do qual a Cavan faz parte. "Mas ainda vamos fazer novas diligências", disse o procurador. Ele aguarda o colega Márcio Torres retornar das férias para ouvir novamente Adalberto e o ex-assessor da presidência do BNB, o advogado Kennedy Moura Ramos.
Kennedy é suspeito de ter facilitado um empréstimo de R$ 300 milhões da STN junto ao BNB. E o dinheiro que estava com Adalberto pode ser "propina". Adalberto, Kennedy e o deputado Guimarães eram velhos amigos. Romperam relações depois do escândalo. Adalberto foi exonerado por Guimarães e está incomunicável no interior cearense. Kennedy pediu demissão do BNB. O banco, no entanto, instalou uma Sindicância para apurar o caso. O relatório deverá ficar pronto nos próximos dias.
O PT cearense também abriu sindicância sobre o caso. A Comissão de Ética do partido sequer convocou Nobre Guimarães para depor, porque acolheu um pedido dele para ser ouvido na mesma comissão do diretório nacional, do qual é integrante. O relatório fica pronto nesta semana e vai falar em traição, não em punição, segundo Francisco Jerônimo do Nascimento, que é da comissão de ética do Diretório Estadual. Em parte porque não há quem punir uma vez que Adalberto pediu desfiliação e o mesmo fez o advogado Kennedy Moura Ramos.
