O governo sofreu um revés na tentativa de esvaziar a CPI do Apagão Aéreo na Câmara, com a iniciativa de senadores de oposição de criar uma comissão parlamentar de inquérito para investigar irregularidades na Infraero e em outros órgão ligados à aviação civil do País. A decisão, analisada pelos líderes e presidentes do DEM e PSDB, será formalizada amanhã pela manhã, em reunião das bancadas dos dois partidos.
Até então renitente à idéia, o líder tucano, senador Arthur Virgílio (AM), disse que a CPI do Apagão Aéreo do Senado se tornou imprescindível depois que parlamentares ligados ao Palácio do Planalto e até mesmo o ex-presidente da Infraero, deputado Carlos Wilson (PT-PE), procuraram chantagear a oposição. "Foram duas coisas que mexeram muito com o PSDB e, pelo que vi, mexeram muito com o PFL", afirmou.
A primeira chantagem, segundo frisou, foi a de terem insinuado que haveria certos contratos irregulares da Infraero, da época do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, a exemplo do que fizeram para impedir a CPI do Banestado e a dos Correios. "É a mesma conversa camorra que vem ficando antiga e recorrente", justificou. O outro fato foi a declaração de Carlos Wilson – segundo o líder – de que há necessidade de investigar as obras da Infraero na Bahia.
Virgílio afirmou que tampouco é aceitável os "sussurros" dos governistas de que, a investigação da CPI, pode provocar uma crise militar porque supostamente haveria parlamentares envolvidos com a corrupção na Infraero. "Não são sussurros honestos porque colocam as forças armadas sob suspeição", defendeu. Ele alegou que, mesmo se fosse esse o caso, não caberia aos parlamentares se omitirem da investigação. "Não temos o menor compromisso em defender quem pratique corrupção, seja à paisana ou fardado", argumentou.
Na reunião, presentes também os líderes da Câmara – Onyx Lorenzoni(DEM-RS) e Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP) – e o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ) e do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE) – ficou descartada a possibilidade da criação de uma CPI mista. De acordo com o líder José Agripino (DEM-RN), se o Supremo Tribunal Federal (STF) mandar instalar a CPI do Apagão da Câmara, funcionarão as duas CPIs, uma em cada Casa, a exemplo do que ocorreu há seis anos na investigação de irregularidades nos clubes de futebol.
Os deputados atuaram na chamada CPI da Nike, presidida pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), enquanto que o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), comandou a CPI do Futebol. "Os deputados aguardarão a decisão do Supremo sobre a legalidade de que a sua instalação já está pré-definida", afirmou. Segundo Agripino, a comissão do Senado pode ter uma pauta de trabalho mais amplo, incluindo, entre outras coisas, a condição de duopólio existente hoje no País, que privilegia duas únicas empresas. "Com certeza, isso não é do interesse do usuário", defendeu.
Para Arthur Virgílio, a decisão de instalar uma comissão no Senado vai "driblar a truculência com que o assunto foi tratado na Câmara". Ele lembrou que, ao contrário do que ocorre naquela Casa, não há no Senado uma "maioria acachapante", capaz de dificultar a criação da comissão. Basta apenas a assinatura de 27 senadores, o que é facilmente obtido entre os cerca de 40 que estão na oposição ou são dissidentes das bancadas aliadas com o Planalto. "Eu imagino que a vontade de ver a questão investigada é enorme", afirmou.
O líder Agripino entende que está em jogo uma questão: "Será que todos estão satisfeitos com o andamento dado à crise do apagão?". Segundo ele, o certo é que as denúncias estão aumentando dia a dia, sem que o governo tenha até agora mostrado a disposição de apurar o que realmente ocorreu no setor.