Lideranças dos partidos de oposição consideraram satisfatórias as declarações do ministro da Fazenda Antonio Palocci, para acalmar o mercado e não deixar que as acusações feitas por Rogério Buratti, ex-assessor seu na prefeitura de Ribeirão Preto, afetem a economia.

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Os oposicionistas defenderam, no entanto, a continuidade das investigações sobre as acusações feitas por Buratti que, em depoimento ao Ministério Público de São Paulo, disse que o ministro recebia R$ 50 mil por mês de empresa de lixo em troca de favorecimento em licitação. E não descartaram a convocação de Palocci para se explicar na CPI dos Bingos, depois do depoimento de Buratti previsto para quarta-feira.

"Ele (Palocci) se portou de forma correta e deu explicações razoáveis quando, por exemplo, aborda o seu relacionamento mais recente com o Buratti. Mas ele tem de ir à CPI dos Bingos para esclarecer e informar o que ele sabia sobre os contratos com Caixa Econômica Federal", disse o líder do PSDB na Câmara, deputdo Alberto Goldman (SP). "Ele (Palocci) procurou colocar todo o assunto na base da economia.

Mas não é só sob esse aspecto que surgiram as denúncias. As denúncias não partiram da oposição e sim de um filiado do PT, que privava da intimidade do ministro. As investigações devem prosseguir e os esclarecimentos têm de ser dados. Ninguém pode ficar isento das investigações", afirmou o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC).

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Para o líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), o ministro Palocci deu uma resposta ao mercado ao confirmar que permanecerá no cargo e dará continuidade à política econômica.

"Para o mercado o discurso dele (Palocci) foi convincente; para a sociedade, não", disse. Na avaliação do pefelista, a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de manter Palocci no governo foi certa.

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"O Palocci foi firme e tranqüilo e não atacou ninguém. Nem o Buratti. Ele deu uma congelada no problema econômico", observou. O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), o ministro foi "veemente ao negar qualquer envolvimento nas denúncias, mas não foi convicente". "Ele apenas interrompeu o processo catastrófico que estava em curso", resumiu.

Em nota distribuída à imprensa, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que o ministro Palocci "agiu com correção ao se expor frontalmente diante da Nação".

"Espera a bancada do PSDB que a abertura das bolsas amanhã, segunda-feira, se dê em tom menos nervoso que o do fechamento na sexta-feira", disse o tucano. Ele argumentou que o "tom e a forma" escolhidos por Palocci para os esclarecimentos "deixam mal o presidente Lula, que se refugia em comícios para não se explicar ao País, bem como as dezenas de acusados no governo e no PT, que se têm vergonhosamente refugiado no estatuto deo silêncio e nas tergiversações".

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro (PTB-PE), o ministro Palocci foi "extremamente sereno, convincente e elegante" ao se explicar ontem.

"Foi importante ele ter falado. Mas as investigações têm de continuar.

Não se pode colocar ninguém acima da lei", disse. Ele argumentou ainda que, caso apareçam provas documentais fortes, o ministro tem de ser afastado do governo. "Mas agora não há nenhuma razão para o afastamento do ministro. O Buratti não tem estofo e não apresentou nenhuma prova contra o ministro", observou.

O ex-ministro e deputado José Dirceu (PT-SP) comentou, neste domingo, por intermédio de sua assessoria, que a entrevista de Palocci foi "perfeitamente esclarecedora". Dirceu aproveitou para criticar a "onda de denuncismo", na qual pessoas acusadas de praticar ilegalidades lançam acusações sem provas contra autoridades do governo e ganham repercussão na mídia. Na sua avaliação, essa situação inverte o ônus da prova e confronta o Estado de direito.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, elogiou as declarações de Palocci. "O ministro fez o que o presidente Lula já deveria ter feito há muito tempo: falou diretamente à Nação, sem subterfúgios, desmentindo com veemência as acusações", disse Busato, em nota distribuída à imprensa. "É claro que o assunto não está esgotado, já que o acusador, Rogério Buratti, por mais que se queira desqualificá-lo, privou durante anos da intimidade profissional e pessoal do acusado.

Falou com conhecimento de causa. Somente as investigações podem dar a última palavra. Mas o ministro fez a sua parte", observou. Busato defendeu que o presidente Lula preste esclarecimentos e "favoreça a rápida superação da crise".