Fracassou a tentativa do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de antecipar para esta semana a ida ao Senado com o objetivo de dar explicações sobre a violação do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o "Nildo". A iniciativa de Bastos, que, em tese, reduziria os ataques provenientes da oposição, que o associam à trama para livrar a cúpula do governo do escândalo da quebra de sigilo, recebeu o apoio dos aliados da administração federal. Mas foi rejeitada pela oposição, sob a alegação de que antes é preciso ouvir o ex-presidente da Caixa Econômica Federal (CEF) Jorge Mattoso. A convocação de Mattoso para depor à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos só será votada no dia 18.
O ministro da Justiça manifestou a disposição de falar aos parlamentares o quanto antes no ofício que enviou no fim da manhã de hoje aos presidentes da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), e do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Calheiros desistiu de atendê-lo depois de ouvir os líderes, alegando que não havia unanimidade quanto à antecipação da data. "As decisões aqui são coletivas. Não há consenso entre as lideranças para que o ministro venha agora", argumentou. Além do ofício, Bastos reforçou o apelo ligando para o presidente do Congresso, os líderes do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), e do PT, Ideli Salvatti (SC), e o senador Tião Viana (PT-AC). Ausentes de Brasília durante o dia, Mercadante e Ideli não tiveram como endossar a posição do ministro.
A defesa de Bastos foi feita por Tião Viana e pelos senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Sibá Machado (PT-AC) e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), a quem o ministro também telefonou "na condição de amigo", como afirmou o pefelista. Ao assegurar que Bastos está "sólido no cargo", Tião Viana disse que não vê ligação entre o prazo para se manifestar e a permanência no ministério. Da tribuna, o líder do PFL, José Agripino (RN), alegou que não teria sentido ouvir Bastos esta semana, antes de Mattoso. "O ministro não vem aqui como incriminado, vem aqui como um suspeito para esclarecer fatos", alegou. O ministro reuniu-se com o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci na casa deste em companhia do advogado Arnaldo Malheiros. Na conversa, no dia 23, teriam sido discutidas estratégias de defesa de Palocci.
O presidente do Congresso decidiu que Bastos falará na próxima semana, primeiro no Senado e depois, se for o caso, na Câmara. "Porque aqui temos regras claras em relação às perguntas e respostas, temos tempo definido para réplica e tréplica", justificou. No entender do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), seria melhor se o ministro pudesse falar direto à CPI, na qual afirmou acreditar haver mais espaço para ele se defender.
Para o líder da minoria na Casa, José Jorge (PFL-PE), é justa a idéia de reunir o maior número de parlamentares para ouvir Bastos sobre o episódio. Jorge lembrou não ser esta a primeira vez em que o ministro aparece na condição de advogado de membros do governo envolvidos em crimes. "Sempre se disse aqui no Congresso que Márcio Thomaz Bastos é a principal cabeça para orientar pessoas do governo envolvidas nos escândalos do governo", alegou. "Sempre foi assim, mas sua participação nunca ficou tão evidente como agora." O líder da minoria no Senado quer ainda que a CPI ouça Malheiros sobre a participação dele na reunião na qual se acertou sobre o esquema para preservar a cúpula da administração federal do crime de violação bancária.
Na Câmara, o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), defendeu a ida do ministro nesta semana. "Adiar o depoimento para depois do feriado pode parecer que a oposição pretende desgastar politicamente o governo, e a nossa intenção é apurar os fatos", afirmou. (colaboraram Denise Madueño e Gilse Guedes)
