A oposição defende a realização de uma ampla investigação sobre as operações envolvendo empresas estatais e o Ministério do Trabalho, que receberam notas frias das empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza. Segundo o líder do PFL na Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ), as transações precisam ser analisadas detalhadamente para saber se ocorreu alguma espécie de conivência da parte de algum diretor das empresas envolvidas, como Eletronorte, Banco do Brasil, além do Ministério do Trabalho.
"Não tenho dúvidas que a CPI e os órgãos de fiscalização do governo devem conferir todas essas operações porque envolviam grandes somas de dinheiro público e tiveram como notas frias como documentos de comprovação. São somas altas. É muito estranho que nunca tenha sido descoberto que essas notas eram frias", avalia o parlamentar.
Segundo laudo do Instituto Nacional de Criminalística, enviado à CPI dos Correios, empresas de Marcos Valério fraudaram 54 mil notas fiscais para atestar serviços prestados ao Banco do Brasil, Eletronorte e Ministério do Trabalho, entre outros clientes. As fraudes identificadas foram feitas com um instrumento chamado Autorização de Impressão de Documento Fiscal (AIDFs), que são permissões das prefeituras para que empresas emitam notas fiscais.
"São notas frias demais esquentando essas operações. Temos que verificar se houve má fé de algum desses diretores de estatal na hora de autorizar todas as operações. Sabe-se, por exemplo, que o ex-deputado Roberto Jefferson, envolvido no escândalo, tinha o controle político da Eletronorte", avalia Rodrigo Maia, sem citar o ex-presidente da estatal Roberto Salmerón, afilhado político de Jefferson e que pediu demissão do comando da empresa em junho desse ano, por conta do envolvimento do ex-deputado no escândalo.
A oposição também acha que deve ser investigada a possibilidade de conivência das prefeituras de Rio Acima e Catas Altas no uso irregular de AIDFs e emissão de notas frias. As empresas de Marcos Valério se instalaram nessas duas cidades mineiras, localizadas na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para se beneficiar de vantagens fiscais.
Valério levou filiais da SMP&B Comunicação, DNA Propaganda e da Multi Action Entretenimentos para essas cidades cujas regras tributárias são mais interessantes empresarialmente já que cobram menores alíquotas de ISS (Imposto sobre Serviços) para empresas de publicidade. Na prática, as empresas existiam nessas cidades de forma quase virtual, usando apenas a vantajosa estrutura tributária, tendo como sede, em um determinado período a sede da prefeitura de Rio Acima e se identificando como uma espécie de caixa postal, o "Box 579".
As vantagens oferecidas por essa guerra fiscal municipal fizeram com que Rio Acima vivesse uma inusitada situação. A cidade tem apenas cerca de 8 mil habitantes, mas possui mais de 2,6 mil empresas com sede no municípios, o que equivaleria a impressionante marca de uma empresa para cada três habitantes.