O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, poderá ter que comparecer ao Senado para explicar se teve participação na violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa. Hoje, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), apresentou requerimento para que o ministro seja convocado a falar no plenário da Casa e obteve apoio da oposição. Em um casa onde o governo não tem maioria, são boas as chances de o requerimento ser aprovado.
"O governo está perdendo a noção das coisas. Era para ele (Bastos) atravessar a rua e vir aqui no Senado dar explicações. Ele (Bastos) insiste em ser Armando Falcão (ministro da Justiça no governo Geisel). Deveria ser Paulo Brossard (ministro da Justiça de José Sarney)", afirmou Virgílio Para o tucano, o ministro está numa posição desconfortável depois da revelação do suposto envolvimento de assessores no caso da quebra do sigilo e sua permanência no cargo pode ficar insustentável.
"Não quero prejulgar, mas quero que o ministro nos dê explicações. Temos que saber qual foi a participação do ministro e quais providências tomou, se tomou alguma", disse o senador. Virgílio recebeu imediatamente apoio dos senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), José Agripino (PFL-RN) e Cristovam Buarque (PDT-DF),que estavam em plenário.
"Deve ser do interesse do ministro vir aqui prestar esclarecimentos. Isso tem que ser explicado, ou o cidadão brasileiro terá o dever de entender que a quebra de sigilo foi uma ordem do governo", disse Agripino. Cristovam foi na mesma linha. Disse esperar que o ministro, ao saber do pedido de convocação, tome a iniciativa de se oferecer. "Seria um gesto de respeito ao Senado, à nação e a sua biografia", afirmou.
A decisão de chamar Thomaz Bastos ao plenário, e não à CPI dos Bingos – que quer investigar a quebra de sigilo de Francenildo – foi uma forma da oposição reagir ao suposto envolvimento do ministro no caso sem tratá-lo como culpado. "Não estou sentindo que o ministro deva ser tratado como réu, por isso não propus que comparecesse à CPI. Mas acho que ele já tem explicações a dar", disse Virgílio.
O senador ACM concorda que o plenário é o melhor lugar. Já avisou que vota a favor da convocação proposta por Virgílio, mesmo sendo amigo do ministro. Mas se for para chamá-lo à CPI, será contra. "Não há um crime ainda do ministro. Se ficar provado que ele participou, então ele pode ir à CPI", disse.
Já os governistas não vêem razões para pedir explicações ao ministro. "O governo mandou apurar. Além de colocar a Polícia Federal, ainda pediu para o Ministério Público acompanhar. A investigação já está dando resultados", justificou a líder do PT no Senado, Ideli Salvati (SC).
O pedido tem que ser posto em votação no plenário da Casa com pelo menos a metade dos senadores presentes e ter a metade mais um dos votos para ser aprovado. Como o governo não tem maioria no Senado, a aprovação será mais fácil. Já existe um pedido igual apresentado na Câmara dos Deputados pelo PPS na semana passada. Está nas mãos do presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB) colocá-lo em votação.
Em mais uma reação contra Thomaz Bastos, o presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Moraes (PFL-PB), também discursou da tribuna explorando a denúncia do suposto envolvimento de assessores de Thomaz Bastos na quebra de sigilo bancário do caseiro. "A bola da vez, segundo informam os jornais, é o ministro da Justiça. E isso é assustador. Quando o ministro da Justiça, chefe da Polícia Federal, está no centro de graves suspeitas, relacionadas a um crime de estado, a quem iremos recorrer? Ao bispo?", reagiu Efraim.
Segundo ele, o que deve ser investigado agora é uma "aliança operacional espúria vinculando o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, na operação criminosa de quebra ilegal de sigilo bancário".
O presidente da CPI dos Bingos não descarta a possibilidade de convocar Thomaz Bastos para falar na comissão parlamentar de inquérito. Mas disso quer cruzar informações e acompanhar depoimentos, como o do ex-ministro da Fazenda. Palocci deve falar quarta-feira na Polícia Federal.