O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez pouco caso da gravidade atribuída pela oposição às irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em cartilhas do governo. ‘A oposição pode falar o que quiser’, disse Lula na noite de ontem, ao chegar à casa do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, para mais um jantar com empresários. O presidente comentava as declarações de oposicionistas que viram no episódio motivo para um processo de impeachment

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Em rápida entrevista, Lula ressaltou que o caso ainda não foi julgado em caráter definitivo pelo TCU, que decidiu anteontem abrir uma investigação formal por causa de irregularidades detectadas numa auditoria preliminar. ‘Não é uma posição do TCU, porque ele faz isso desde que existe’, afirmou. ‘É importante que continue fazendo, porque queremos utilizar o tribunal de contas, o Ministério Público, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral como instrumentos para ter uma política transparente no Brasil. Não vejo nenhum problema.

Ontem foi a terceira vez, durante esta campanha eleitoral, que o presidente se reuniu com grandes empresários na casa do ministro Furlan. Não há coleta ou sugestão de doações nos jantares, em que oficialmente comparece o presidente, não o candidato. Mas a seleção de convidados reúne titulares de empresas que são notórias financiadoras de campanha. A Construtora Noberto Odebrecht, por exemplo, doou R$ 5,8 milhões nas eleições presidenciais passadas a candidatos de vários partidos, segundo a ONG Transparência Brasil

Em jantar anterior, Lula afirmou que, pela primeira vez, as empresas produtivas tiveram lucro maior que os bancos e que isso demonstra que ‘valeu a pena investir no Brasil’. ‘Os números são os melhores possíveis. Não há nenhum momento na história republicana em que a economia tenha dado um conjunto de solidez como agora’, completou. Mas o crescimento do PIB em apenas 0,5% no segundo trimestre e o conseqüente rebaixamento na expectativa de crescimento para este ano podem ter mudado o humor do empresariado. Em encontros anteriores, o presidente ouviu reclamações sobre as altas taxas de juros e a elevada carga tributária

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Em todas as ocasiões, Furlan disse tratar-se de uma ‘troca de idéias’ informal entre os representantes do governo e do setor privado. Além do titular do Desenvolvimento, participam outros ministros, como Guido Mantega, da Fazenda, Dilma Rousseff, da Casa Civil, e Luiz Dulci, secretário-geral da Presidência

A idéia de reunir Lula com grandes empresários foi proposta por Furlan, quando acompanhou o presidente a São Petersburgo, na Rússia, para uma reunião do G-8 em julho. Furlan defendeu avaliação dos erros e acertos do governo em relação aos interesses de empresas nacionais. A primeira reunião teve a participação de Márcio Cypriano (Bradesco), Emílio Odebrecht (Odebrecht) e Roger Agnelli (Vale do Rio Doce), além de outros nomes de peso do PIB. Da segunda rodada, participaram Ivo Rosset (Valisère), Roberto Setúbal (Itaú) e Paulo Skaf (Fiesp), por exemplo

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