Na semana passada foi feita uma pesquisa CNI/Ibope. O questionamento foi sobre a opinião dos consultados a respeito do que acontecerá com a economia brasileira, em caso de vitória de um candidato oposicionista. Os três candidatos da oposição, Lula, Ciro e Garotinho, são ou dizem ser socialistas. Ou isso afirmam os programas de seus partidos. Serra, o candidato situacionista, seria social-democrata, mais próximo da economia de mercado, se bem que não muito distante da suposta programática de seus opositores.
Como se sabe, a despeito de repetidos e eloqüentes desmentidos e protestos, o mercado tem medo da eleição de um oposicionista. E, desde já, aproveita para retrair-se e abre campo para desbragada especulação financeira que está prejudicando o Brasil.
Os resultados da pesquisa, que consultou dois mil eleitores, revelam que grande parte do eleitorado está por fora do assunto, alheia aos temores do mercado, às probabilidades do que virá a acontecer no campo econômico-financeiro e opinando lotericamente. Exceção para os consultados de maior escolaridade, que se não adivinharam o futuro possível com a eleição de um presidente da oposição, foram mais coerentes em relação às probabilidades, à falta de certezas. Isso dá, a essas elites, aos meios de comunicação e aos próprios candidatos, enorme responsabilidade, pois lhes cabe ajudar a formar opiniões corretas, suprindo o eleitorado com adequadas informações.
Sobre a inflação, num governo de um dos candidatos oposicionistas, 35% dos consultados opinou que o índice continuaria como está, enquanto 32% disseram que aumentaria e 17% que diminuiria. Dezesseis por cento nada responderam. Quer nos parecer que estes últimos, que não responderam por não ter opinião formada, são os que estão mais certos. Os candidatos oposicionistas prometem manter o sistema de metas de inflação que é imposto pelos acordos com o FMI. Mas também prometem muita coisa que pode levar ao aumento da inflação, despesas sem adequado custeio e que exigiriam afrouxamento do ajuste fiscal. A redução da inflação, também prevista por grande número de consultados, não parece provável. Não existe nenhum indicativo de que viria a ocorrer.
Outra pergunta referia-se a investimentos empresariais. 34% afirmaram que não haveria alteração, 25% que aumentariam e 18% que cairiam. Nada menos de 23% não souberam responder. Puro “chutômetro”. Nada indica que aumentariam e existem fundados temores que, pelo menos num primeiro momento, cairiam. Quanto a não ocorrerem alterações, já estão ocorrendo porque existem perspectivas de vitória oposicionista. Sobre a taxa de juros, a maioria, ou seja, 39%, apostam que aumentaria; 28% que haveria estabilidade e 16% que diminuiria. Aqui, seria mais lógico acreditar que cairiam, mesmo que fosse artificialmente e de forma temerosa. Todos os candidatos oposicionistas se postam contra a atual política do Banco Central de manutenção de uma taxa elevada, para segurar a inflação ou para forçar a captação de recursos para rolagem da dívida pública.
A última pergunta foi sobre o risco de o Brasil vir a ter os mesmos problemas da Argentina. A maioria disse que não e, mesmo sendo palpite ou mera adivinhação, essa opinião é bem-vinda. Acreditar no Brasil, apesar das incógnitas sobre o seu futuro sob um novo governo, é condição para evitar males maiores.