As lideranças governistas adotaram, na CPI dos Correios, uma estratégia que poderá prolongar até março de 2006 os trabalhos de investigação ou gerar a instalação de uma nova CPI para concluir os trabalhos. É o que pensam as lideranças da oposição sobre o comportamento da bancada oficial nas últimas duas semanas, de negar quorum às sessões administrativas.
O objetivo do governo é evitar a votação de requerimentos que a oposição considera cruciais para o deslinde do escândalo político e as conclusões dos trabalhos até a primeira quinzena de dezembro. O governo está recompondo a base aliada e tenta obter o controle total das CPIs em funcionamento.
O pedido de prorrogação de prazo se tornará inevitável, diz o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Caso tenha êxito a estratégia do Palácio do Planalto e também seja negado o pedido de prorrogação, os oposicionistas pretendem apresentar o pedido de instalação de uma CPI exclusiva no Senado para concluir as investigações, começando o trabalho a partir do ponto em que for interrompida a CPI dos Correios."Nós não vamos aceitar a pizza", disse o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio.
Virgílio disse também que caso os governistas continuem a negar quórum para que se decidam quebra de sigilos que podem finalmente revelar a origem das movimentações bilionárias do publicitário Marcos Valério de Souza e do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, a oposição promoverá uma campanha de denúncias do que já chama de "trabalho de pizzaiolo".
"Estamos chegando à fonte do dinheiro onde bebiam Valério e Delúbio", disse Virgílio. A CPI dos Correios tenta há duas semanas aprovar pedidos de quebra dos sigilos bancários de corretoras e fundos de pensão suspeitas de terem operado para o esquema do mensalão junto aos bancos BMG e Rural e que seriam a explicação tanto para a versão de empréstimos ao PT apresentada por Valério e Delúbio quanto para os pagamentos a parlamentares dos partidos da base aliada.
O governo adotou uma contra-ofensiva na CPI dos Correios a partir da reorganização da base aliada em torno da candidatura bem sucedida do ex-ministro Aldo Rebelo à presidência da Câmara. Os governistas, que têm maioria na CPI dos Correios, passaram a negar quorum às sessões, retirando-se do plenário no momento das votações.
A senadora Ideli Salvati (PT-SC) tem liderado a execução da estratégia. O risco que o Palácio do Planalto corre é o de obter o efeito indesejado, para ele, da prorrogação da CPI até março do ano que vem, quando estarão em curso as movimentações para a eleição presidencial, ou então o de ver instalada uma CPI exclusiva do Senado, onde o governo é minoritário, e perder completamente o controle das investigações.