Sempre que discutimos seriamente a necessária reforma política, não podemos escapar do debate sobre a necessidade de o Brasil ter partidos políticos com ideologias e programas, escapando dos pleitos e governos oportunistas em que pouco importa o que pensam e que compromissos têm os candidatos. Infelizmente esse oportunismo tem sido a regra. Prova disto tem sido a descartabilidade das legendas. Candidatos trocando de partidos como se trocam camisas e alianças sendo amarradas de acordo com interesses do momento, desprezadas correntes de pensamento e compromissos que deveriam responder aos votos conquistados.
A Justiça Eleitoral dá os primeiros passos para corrigir essa caótica situação, ao exigir fidelidade partidária. Mas os processos de cassação de mandatos por infidelidade estão apenas se iniciando e multiplicam-se os argumentos de defesa dos infiéis e os trâmites processuais que trabalham a seu favor.
Para as eleições presidenciais de sucessão de Lula não é de se esperar um quadro mais higiênico, vale dizer, mais limpo em termos de compromissos com idéias e programas.
Em sua recentíssima e rumorosa viagem ao Nordeste, quando o presidente da República negou a democracia atacando os poderes Legislativo e Judiciário, de suas conversas sem papas na língua foram colhidas posições em que promete uma sucessão oportunista. Lula não confirmou o compromisso com o PMDB, a quem caberia, no condomínio governamental que preside, a indicação do próximo presidente. Foi claro ao dizer que ?o candidato vai ser o que puder ganhar?. Posição distante da de um presidente ideológico e mais distante ainda de compromissos reformistas que deveriam ser esperados de um partido pretensamente ideológico como o PT.
Ele referiu-se a três candidaturas: Dilma Rousseff, Ciro Gomes e Aécio Neves. Dos três, apenas Dilma, a toda poderosa ministra-chefe da Casa Civil é do PT e, embora ressaltem suas qualidades no exercício da vida pública, poucas chances têm de ser a candidata efetiva. Isto exatamente por ser do PT, partido que tem o presidente, mas não tem o governo. Ciro, que já foi candidato e acabou derrotado, é do PSB e aparece como uma segunda opção, mas tudo indica que Lula prefere-o como candidato a vice-presidente.
Surge a candidatura do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, do PSDB, que já referimos neste espaço como um pretendente dentro de uma política tipo ?café com leite?, atendendo a interesses mineiros e paulistas. Aécio governa o estado que tem o segundo maior colégio eleitoral do País. Já lançou espinhel para procurar captar, nas atuais hostes situacionistas, apoios capazes de consolidar sua candidatura. E, pelo visto, a tem admitida inclusive pelo presidente Lula que se jacta de ter o poder de eleger quem seja o seu preferido, já que indubitavelmente é, individualmente, o maior cabo eleitoral do Brasil.
Lula preferiria que Aécio mudasse de partido, ingressando no PMDB, o que facilitaria todo o jogo sucessório. Assim, poderia ser atendido o pleito peemedebista de ter como candidato um membro da agremiação que é, no momento, a maior das hostes situacionistas.
Essa pretensão parece não atender aos anseios de Aécio. O jovem governador mineiro parece ter percebido, antecipadamente, que Lula não vai presidir nenhuma sucessão partidária ou ideológica, mas sim oportunista. O quadro tem seus rumos traçados. O sucessor de Lula será um homem de esquerda, se não for de centro ou mesmo de direita. As idéias e os programas nada significarão. O jogo do poder será jogado na base da oportunidade. Ou melhor, do mais descarado oportunismo.