São 22 horas, a sirene permaneceu muda para não incomodar os vizinhos, mas os operários que trabalham na construção do Estádio João Havelange começam a parar após mais um dia intenso de trabalho.

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O atraso nas construções das obras para os Jogos Pan-Americanos do Rio obrigou a criação dos turnos noturnos, o que movimenta cerca de 350 trabalhadores só no local onde ocorrerão as disputas de futebol e atletismo.

Mas a boa notícia no João Havelange, conhecido também por Engenhão, é que há 102 dias do início das provas, o turno da madrugada foi extinto. Como estão dentro do ritmo previsto para o estádio ficar pronto até 15 de junho, apesar da previsão inicial de término ter sido julho de 2005, desde fevereiro os operários só trabalham até o raiar do dia em casos excepcionais.

E a complexidade da obra transformou o João Havelange em um ponto de encontro de mão-de-obra vinda de todos os recantos do País. Maranhenses, piauienses, gaúchos, cearenses, paraibanos são alguns dos representantes da diversidade de culturas brasileiras que trabalham para erguer o estádio, capaz de receber 45 mil torcedores.

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Na noite de quinta-feira, o carpinteiro baiano Laedson Silva Araújo, de 23 anos, era um exemplo desses operários que vieram ao Rio trabalhar nas obras do Pan. Há três meses na cidade, deixou a namorada, Mara, no município de Glória, na Bahia, e sonha em conseguir o dinheiro necessário para construir a casa, onde os dois vão morar após se casarem.

‘Sempre quis trabalhar nas construções do Pan mas estando lá na Bahia era difícil. Até que um amigo me chamou para uma obra que estava fichando (contratando) no Rio. Só ao chegar aqui vi onde era e nem acreditei’, disse o flamenguista Laedson, que já passou um aperto com a violência carioca. ‘Vivo com outros operários aqui perto. Como não conheço nada, fico muito no portão. Um dia estava lá parado e uma bala passou de raspão por mim. Entrei correndo para o barraco!

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À noite, a atenção com a segurança dos operários redobra. Cerca de dez técnicos se revezam para checar se a iluminação está correta e os trabalhadores munidos de óculos, capacete, com atenção especial para luvas e botas, porque no escuro aumenta a possibilidade de acidentes com algo cortante no chão ou ‘esquecido’ em algum lugar.

Ao contrário do dia, onde é possível ver operários por todos os cantos do João Havelange, à noite eles são divididos em grupos, que realizam determinadas tarefas, como construção das rampas de acesso ao público, colocação de grama na pista de aquecimento, finalização dos arcos da cobertura e serviços de acabamento.