Opção equivocada

Estava tudo acertado para ser neste primeiro de maio o lançamento de um dos mais esperados programas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva – o Primeiro Emprego. O presidente acaba de dar a contra-ordem: adie-se. E não fixou data nem prazo para iniciar a empreitada prometida em campanha no bojo da promessa maior pela criação de dez milhões de empregos no Brasil. Por enquanto, quem tem, tem; quem não tem, que continue procurando ou esperando.

Em compensação, da mesma Brasília vem a informação de que o governo vai distribuir cestas básicas para os sem-terra acampados pelo Brasil afora. Calcula-se que seriam cerca de 60 mil famílias (há quem fale também em 140 mil) e a ordem foi comprar 180 mil cestas básicas que, pelos cálculos do ministro da Segurança Alimentar, José Graziano, dariam para enganar o estômago dos acampados pelo período de uns bons três meses. A distribuição começa a partir da segunda quinzena de maio e, pelo calendário definido pelos superintendentes regionais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra, a tarefa caberá à Companhia Nacional de Abastecimento – Conab.

As duas notícias são importantes. Esta última, porque vem num momento em que no Congresso Nacional já se discute emenda à Constituição Cidadã que, entre os direitos sociais, tinha esquecido de incluir o direito à alimentação. Acampado sem-terra, mesmo que a soldo de organizações outras, a serviço da causa da reforma agrária na marra, têm direito a comer, sim senhor. Nada mais justo que o Estado socorra a todos, distribuindo generosas cestas básicas durante o período em que esperam por um assentamento digno e bem estruturado, onde a distribuição de cestas também faz parte.

A primeira das notícias referidas, entretanto, é negativa. O adiamento do lançamento do programa Primeiro Emprego acontece, segundo se informa, porque o presidente Lula e seu ministro da Fazenda, Antônio Palocci, não sabem de onde virá o dinheiro que haverá de financiar as empresas que se comprometerem a gerar os primeiros empregos aos jovens dispostos a ganhar o sustento com o próprio suor do rosto. Lula gosta de repetir que quem tem pressa come cru. Portanto, é melhor ir cozinhando o galo da cesta básica gratuita enquanto se coloca para chocar a ninhada do Primeiro Emprego, torcendo para que os ovos não gorem. Um dia o trabalho chega e o homem será, enfim, dignificado.

Falando sério, já dissemos aqui e repetimos o que o próprio Lula candidato dizia nos palanques: mais que fazer caridade com o dinheiro público, é preciso criar condições para que cada cidadão encontre o caminho de sua realização pessoal. E isso acontece com emprego e trabalho. Assim, a prioridade concedida à distribuição de cestas básicas, através do programa Fome Zero ou através de qualquer outro mecanismo, não pode substituir outras prioridades como esta do Primeiro Emprego ou – para não falar numa particularidade – de uma política consistente de geração de empregos. Os juros altos, por exemplo, continuam incentivando mais a especulação que a produção. E sem produção e desenvolvimento, não se criam empregos. Continuaremos, assim equivocados, a distribuir cestas básicas, isto é, dando o peixe sem distribuir os anzóis.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo