O Escritório da ONU contra Drogas e Crimes (UNDOC) está desenvolvendo um projeto para unificar informações sobre o tráfico de armas na América do Sul, com o objetivo de combater redes de traficantes que atuam na região. Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai estão envolvidos na iniciativa, que tem como intenção inicial criar um banco de dados sobre este tipo de crime.
O projeto ainda está no começo, explicou Reiner Pungs, que coordena o Programa de Prevenção ao Crime e Redução de Oferta de Drogas do UNDOC. As informações sobre cada país estão sendo coletadas, para depois serem incluídas num sistema único. Em setembro, representantes irão se encontrar em Assunção para discutir como será feito o trabalho conjunto.
Reiner Pungs esclareceu que os recursos necessários para a implantação do projeto estão sendo levantados juntos aos governos dos quatro países. O Paraguai, por onde passam armas utilizadas por traficantes brasileiros, é uma preocupação. Assim como o Uruguai, o país não assinou o protocolo da ONU contra a fabricação e o tráfico de armas, ratificado pelo Brasil (a Argentina assinou, mas ainda não ratificou).
O delegado Marcus Vinicius Dantas, subchefe da Divisão de Repressão ao Tráfico Ilícito de Armas (Darm) da Polícia Federal, um dos palestrantes do seminário carioca, lembrou que o Brasil tem sido muito elogiado internacionalmente pelos avanços na legislação que rege o comércio de armas. No entanto, para o pesquisador Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública, que também participou do encontro, não basta termos leis admiráveis, se há entraves para colocá-las em prática.
Um exemplo: até hoje, passados quase três anos da instituição do Estatuto do Desarmamento, os bancos de dados do Exército e da PF ainda não se comunicam, disse Soares – medida fundamental para se traçar a trajetória de armas de uso restrito (as mais usadas por traficantes). "As leis são importantes, mas estamos nos iludindo. Isso é um exemplo impressionante de nossa incapacidade", afirmou. Segundo o subchefe da Darm, os dois sistemas deveriam estar ligados desde maio, mas ainda há dificuldades tecnológicas a serem superadas.