A Organização das Nações Unidas (ONU) alerta para a "impunidade crescente" e o "clima de medo" no Brasil diante dos assassinatos de defensores de direitos humanos. Um relatório preparado por Hina Jilani, representante especial do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, para a proteção de defensores de direitos humanos, não pouca críticas à situação do Brasil em 2004. O documento servirá de base para um debate em março durante a reunião anual da Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra.
O documento já havia sido finalizado em dezembro, mas apenas às vésperas da reunião de direitos humanos da ONU é que o conteúdo do relatório se torna público. Nele, Hina Jilani destaca a situação preocupante de 13 países, entre eles a China, Irã, Rússia, Síria, Sudão e Colômbia, além do próprio Brasil. O relatório, apesar de não trazer informações sobre a morte da missionária americana, Dorothy Stang, ocorrida apenas neste ano, deixa claro que a situação brasileira já preocupava a ONU mesmo antes do incidente no Pará.
Durante o segundo ano do governo Lula, a ONU pediu esclarecimentos sobre oito casos de violações aos direitos de ativistas e de pessoas que lutavam por proteger os direitos de minorias. Os incidentes tratavam, em sua maioria, de mortes e ameaças contra pessoas que trabalhavam para a proteção de direitos à terra, direitos de indígenas e contra a existência do trabalho forçado. Alguns casos sobre o abuso de poder das polícias também foram destacados pela ONU, além da morte dos fiscais do Ministério do Trabalho no início de 2004.
Segundo Hina Jilani, durante o ano passado, o governo respondeu apenas a um dos oito pedidos de esclarecimentos enviados pela ONU. Delegados do escritórios de Direitos Humanos das Nações Unidas em Genebra, porém, não souberam dizer se as solicitações da entidade haviam sido respondidas nos dois primeiros meses deste ano. De qualquer forma, o fato de o governo não ter dado as respostas no mesmo ano dos questionamentos já era qualificado no documento oficial como "lamentável".
A ONU ainda apela para que o governo brasileiro garanta a segurança dos defensores de direitos humanos e destaca que ocorreram "numerosas ameças de morte" contra essas pessoas. Um dos aspectos que mais preocupa a especialista é a falta de resposta do governo aos casos.
Segundo ela, os autores das ameaças ou dos crimes "não tem sido identificados ou responsabilizados por suas ações, resultando em uma impunidade crescente e criança um clima de medo e de insegurança para aqueles que defendem os direitos humanos".
No total, a representante de Kofi Annan registrou 895 casos de violações aos defensores de direitos humanos no mundo em 2004 e 165 organizações não-governamentais foram ameaçadas. 32% dos pedidos de esclarecimentos de casos por parte da ONU foram destinados a governadores latino-americanos.