Países como Venezuela, Bolívia e Equador já vêm sofrendo o impacto direto de suas políticas e tiveram uma queda de investimentos diante da falta de segurança jurídica oferecida pelos governos às empresas estrangeiras. Essa é a avaliação de economistas da Organização das Nações Unidas (ONU), que divulgou um levantamento sobre o fluxo de investimentos em todo o mundo. Eles alertam que medidas de nacionalização como as que vêm sendo anunciadas nesses países podem afetar diretamente o fluxo de investimentos para a América Latina nos próximos anos.

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No Brasil, os investimentos estrangeiros cresceram 5,9% em 2006, ante um aumento médio mundial de 34%. O levantamento da ONU coloca o Brasil na 12ª colocação entre os principais destinos. Segundo o estudo, os investimentos no mundo atingiram US$ 1,2 trilhão e 2006 foi o terceiro ano consecutivo de crescimento dos fluxos. Em 2005, os investimentos haviam aumentado 34%. Mesmo assim, o volume atual ainda é inferior ao recorde de 2000, de US$ 1,4 trilhão. Para os economistas da ONU, o contínuo aumento reflete o crescimento da economia mundial, tanto nos países ricos como nos pobres.

Na América Latina, os investimentos estrangeiros somaram US$ 99 bilhões. Mas os economistas deixam claro que os regimes fiscais hoje em países como Venezuela, Bolívia e Equador são "menos favoráveis aos investidores" e a ONU teme que medidas parecidas sejam estendidas para mais países. "Isso cria incertezas entre investidores do setor primário, resultado em uma queda de investimentos para a região." A ONU alerta que alguns países latino-americanos vêm promovendo uma mudança significativa em suas políticas econômicas "visando um maior papel do Estado, assim como mudanças em políticas que afetam diretamente indústrias e investidores estrangeiros, em particular no setor de recursos naturais".

Os países de Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa vão na contramão das demais economias que têm recursos energéticos. Segundo a ONU, nos últimos três anos um volume alto de investimentos foi enviado a países com reservas de petróleo e gás em todo o mundo, tendência que deve ser mantida para 2007, salvo nos casos dos países sul-americanos liderados por esses governantes.

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Outros países latino-americanos não tiveram bons resultados: na Colômbia, a queda foi de 52%, ante uma redução de 30% na Argentina, que somou US$ 3,3 bilhões. Quem mais se beneficiou em 2006 foi o Chile, com um aumento de 48%, graças ao setor de mineração.

Salvo no caso sul-americano, todas as demais regiões apresentaram aumento de investimentos. No geral, houve aumento de 10% na entrada de recursos para os países emergentes. Para os países em transição da Europa e ex-repúblicas soviéticas, por exemplo, o aumento foi de 19% e 56%, um recorde. A África também registrou um ano recorde, principalmente com os investimentos chineses no setor primário. Na Rússia, o aumento foi de 94%. No sudeste asiático, mais um recorde: US$ 187 bilhões, 13% mais do que em 2005.

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O que chama a atenção são os investimentos em alta tecnologia na China, que continua líder com US$ 70 bilhões, apesar da queda de 3% em 2006. A queda foi compensada por um aumento de investimentos de 15% em Hong Kong. Juntos, somam US$ 111 bilhões em investimentos. Já a Índia teve um aumento de 44% na entrada de recursos e, junto com a China, caminham para ser as duas principais fontes de investimentos em outros países emergentes.

Brasil

Outro fator que vem colaborando com a alta mundial de investimentos é o crescente número de países que promoveram liberalizações para atraí-los. Mas 2007 não deve apresentar o mesmo desempenho. No caso brasileiro, os investimentos atingiram US$ 16 bilhões nos cálculos da ONU e houve uma queda de aquisições de empresas brasileiras por companhias estrangeiras. Em 2005, o valor dos investimentos havia atingido US$ 15,1 bilhões, ante US$ 18 bilhões em 2004. O volume é menos de um terço dos investimentos obtidos pela China e inferior ao da Rússia, Turquia, Cingapura e Polônia. O México é o líder latino-americano, com US$ 18,9 bilhões.

Os dados elaborados pela Conferência da ONU para o Desenvolvimento e Comércio (Unctad) não incluem os meses de novembro e dezembro. Para o Banco Central brasileiro, o valor será maior se os últimos dois meses do ano forem contabilizados. De acordo com a ONU, a valorização da moeda, diante das balanças positivas de conta corrente e do aumento dos preços de commodities, também seria um obstáculo para a atração de investimentos.