A chegada em menos de 36 horas de 1.200 imigrantes africanos às Ilhas Canárias, na costa da África ocidental, anunciadas nesta segunda-feira (04) por autoridades espanholas, são resultado direto de uma recente e intensa onda imigratória que tem preocupado o governo da Espanha.

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Isso porque, nos últimos meses, a imigração ilegal para as Ilhas Canárias, governadas pela Espanha, tomou uma proporção assombrosa. Desde o dia 1º de janeiro até o dia 28 de agosto, o número de imigrantes, a maioria da África subsaariana, totalizou 18.782, o que dá uma média de 3 ilegais a cada hora. O número não é apenas um recorde, mas 400% a mais do que o dos 12 meses de 2005.

Expressando a preocupação do governo diante do crescimento vertiginoso das estatísticas, na semana passada a vice-primeira-ministra da Espanha, María Teresa Fernández de la Vega, reuniu-se com a presidente da Finlândia (país que preside a UE neste semestre), Tarja Halonen.

Com o ato, o governo espanhol lançou uma ofensiva diplomática para fazer com que a União Européia (UE) veja que o fenômeno da imigração ilegal deve ser abordado de forma conjunta e integral pelo bloco.

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As reivindicações da Espanha são a ampliação até dezembro da Agência Européia de Fronteiras (Frontex) – que ajuda as autoridades espanholas a repatriar os imigrantes e a patrulhar por via aérea e marítima as costas do Senegal e da Mauritânia – e a dotação de mais recursos para a entidade.

As autoridades européias ainda não identificaram claramente o que determina este grande êxodo. Várias hipóteses já foram levantadas para explicá-lo: o acirramento de conflitos na África o agravamento da fome, a "descoberta" de oportunidades melhores nas ilhas espanholas, entre outras. Dois fatos, no entanto, dão uma pista mais concreta do que pode estar por trás do fenômeno.

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O primeiro foi o crescimento do número de imigrantes que chegam às ilhas depois que a rota utilizada para entrar na Europa, pelo Marrocos, foi dificultada. Além disso, o governo espanhol concedeu no início do ano passado três meses de anistia para imigrantes ilegais. Cerca de 700 mil pessoas receberam autorização oficial para viver e trabalhar na Espanha. De acordo com o governo, a anistia era parte de uma política de imigração com base nas necessidades econômicas do país, para atender à demanda dos setores de construção e prestação de serviços.

Para os críticos da medida, no entanto, ela serviu para encorajar novos imigrantes ilegais. Nos últimos cinco anos, a população de imigrantes vivendo na Espanha cresceu cerca de 400% (para 3,5 milhões), o que prova que o ritmo das deportações é bastante inferior ao da chegada de estrangeiros.

Estimativas sobre o número de imigrantes que morreram tentando realizar a travessia variam de 590 a 3 mil. Eles partem principalmente de Cabo Verde, Mauritânia e Senegal. Ainda assim apesar de o aumento ter sido grande, os imigrantes representam apenas 9% da população espanhola, de cerca de 40 milhões de pessoas – não muito mais do que na maioria dos países europeus.

Pesquisas indicam que mais de 50% dos espanhóis, um povo que até recentemente cruzava o Oceano Atlântico ou os Pirineus em busca de uma vida melhor, estão preocupados com a elevação do número de imigrantes ilegais no país, principalmente por causa do aumento da criminalidade.

A mídia tem informado sobre ataques de gangues formadas principalmente por imigrantes latinos ou do leste europeu.

O governo espanhol reconhece que um dos problemas da imigração ilegal – além dos milhares de africanos que chegam às Ilhas Canárias – é a falta de controle sobre os que já estão no país.