O eleitor paranaense teve a primeira oportunidade de ver frente a frente, literalmente, olho no olho, os dois candidatos ao segundo turno, como declararam em várias ocasiões e conforme proporcionou o formato escolhido pela produção do programa, levado ao ar anteontem pela Rede Bandeirantes.
Instalados em desconfortáveis banquetas, provavelmente não exibidas a nenhum dos assessores convocados para discutir e acordar previamente as normas do debate, que decerto teriam pedido sua substituição por um assento mais confortável, ora sentados e ora em pé, o governador Roberto Requião e o senador Osmar Dias tiveram duas horas para expor projetos, razões e argumentos de natureza ideológica, programática e até pessoal, numa espécie de largada para a campanha do segundo turno.
Iniciado em horário tardio e, portanto, com um número crescente de aparelhos desligados nos blocos finais, tendo em vista o elevado número de telespectadores obrigados a levantar muito cedo para chegar aos locais de trabalho, o enfrentamento entre os dois finalistas transcorreu de forma enérgica, incisiva e, em determinados instantes, com alguma ponta de agressividade de lado a lado, embora em nenhum caso se possa detectar que houve desrespeito de um para com o outro.
O que se viu foi realmente um debate entre homens públicos que se apresentam ao eleitorado para disputar o governo em rigorosa igualdade de condições – estão empatados – e precisam prospectar seus votos num reduzido universo de indecisos. O governador licenciado tentou de várias maneiras desestabilizar o adversário, mas não logrou êxito em sua tática, porquanto o senador saiu-se a contento da missão de nada deixar sem resposta ou iniciar a fala seguinte com uma referência irônica, mas bem colocada sobre o que dissera antes o governador.
A impressão caracterizou-se quando Requião citou o filósofo francês Henri Lefévre, afamado teorizador da problemática urbana, tendo antes o governador reivindicado sua especialização pessoal em planejamento urbano adquirida em pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas, após ter concluído os cursos de direito e jornalismo. Osmar desarmou a possível arapuca armada por Requião afirmando não conhecer o filósofo francês, mas, tampouco, jamais ter visto nos municípios da Região Metropolitana de Curitiba quaisquer das qualidades preconizadas por ele para os espaços urbanos.
O futuro governador, seja ele o atual ou seu opositor, ao menos tiveram o bom senso de admitir que gastarão somente o que estiver previsto no orçamento. Requião alegou que a sobra exponencial de recursos utilizados até agora na recuperação de rodovias estaduais será aplicada em segurança pública, saúde e educação, prometendo concluir os 24 hospitais anunciados no próximo ano. Assim, a sociedade terá à disposição um sistema público ?fantástico?, o adjetivo mais empregado pelo governador ao longo do programa.
Osmar objetou que a fila de ambulâncias do interior à porta do Hospital de Clínicas e outros continua grande, atestando o insucesso da política estadual de saúde. Aí Requião não teve como dispensar rápido e auto-indulgente reparo à sua hiperbólica visão da gestão pública: o governo do Paraná é fantástico, mas nem todas as coisas são perfeitas.
Entre a perfeição efabulativa e a realidade da lógica administrativa o eleitor paranaense terá de escolher no próximo dia 29 o ocupante do Palácio Iguaçu. Ou da Granja do Cangüiri.