Um oficial da ativa do Exército americano advertiu sobre uma possível derrota dos Estados Unidos no Iraque e a eclosão de uma guerra maior em todo o Oriente Médio. O tenente-coronel Paul Yingling culpou o alto comando de não ter preparado adequadamente as tropas para enfrentarem a insurgência e enganar o Congresso sobre a real situação do país. "Por razões ainda não claras, o corpo de oficiais subestimou a força do inimigo, superestimou a capacidade do governo iraquiano e de suas forças de segurança, além de não oferecer ao Congresso uma avaliação acurada das condições de segurança no Iraque", escreveu Yingling em artigo publicado nesta sexta-feira (27) no Jornal das Forças Armadas, dos EUA.

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A alta hierarquia não apenas foi ao Iraque preparando-se para uma guerra de alta tecnologia com muitos poucos soldados, como não tinha um plano coerente para a estabilização posterior do país, afirmou Yingling. Além disso, eles esconderam do povo americano a intensidade da insurgência iraquiana. "As falhas intelectuais e morais do corpo de oficiais comuns nas Guerras do Vietnã e do Iraque indicam uma crise na capacidade de comando americana", disse Yingling. "Na maior parte da guerra, as forças americanas no Iraque ficaram concentradas em grandes bases, isoladas do povo iraquiano e concentradas na captura ou morte de insurgentes", escreveu. "Em 2007, a situação grave e em deterioração do Iraque oferece poucas esperanças de uma vitória americana e pressagia uma guerra regional ainda maior e mais destrutiva".

Vários oficiais da reserva fizeram críticas semelhantes, mas são raros comentários públicos do tipo por parte de um oficial da ativa. Eles sugerem que existe uma apreensão generalizada entre os oficiais sobre a conduta na Guerra no Iraque num momento crítico para a problemática missão militar dos EUA no país árabe. Respondendo às críticas, o porta-voz do Exército americano em Bagdá, tenente-coronel Christopher Garver, disse que "o tenente-coronel Yingling expressou apenas suas opiniões pessoais num jornal profissional. Nós da Força Multinacional no Iraque estamos concentrados na execução da missão em nossas mãos".

Yingling foi subcomandante do 3º Regimento da Cavalaria Blindada. Ele já cumpriu dois engajamentos no Iraque, outro na Bósnia e um quarto na Operação Tempestade no Deserto, no Iraque, em 1991.

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Senado

O Senado americano aprovou ontem uma resolução que determina o início da retirada das tropas do Iraque em 1º de outubro, mas o presidente George W. Bush já anunciou que irá vetar o projeto. O prazo para a retirada faz parte de um pacote de financiamento de guerra que libera US$ 124 bilhões para as tropas no Iraque e no Afeganistão. A votação, encerrada em 51 votos a 46, foi semelhante à votação da mesma lei um dia antes na Câmara dos Representantes (deputados), por 218 votos a 208, ambas longe dos dois terços necessários para superar o veto de Bush.

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No entanto, o governo do primeiro-ministro iraquiano Nouri al-Maliki criticou a aprovação do projeto pelo Senado. Ali al-Dabbagh, porta-voz do governo do Iraque, disse que a decisão é "negativa" e envia sinais errados aos insurgentes.