Censuremos a pornografia da fome,
do desemprego,
da indústria da educação,
da propaganda mentirosa.
A pornografia da violência policial,
da tortura,
das máscaras pré-eleitorais,
dos aumentos do leite e do pão.
A pornografia da irrealidade dos salários do povo
e da irrealidade dos salários dos
que decidem o mesquinho
salário do povo.
A pornografia da falta de solidariedade,
da demagogia com pés de lã,
da corrupção oficializada
do pseudomoralismo despistador.
A pornografia dos linchamentos,
da lentidão da justiça,
do olho vesgo da justiça,
do pedestal vazio da própria justiça.
A pornografia da justiça que se quer feita pelas próprias mãos.
A pornografia do medo, da insegurança,
das comissões que justificam o crime,
do variado preço da “cerveja”
com que se amansa o gato da fiscalização.
A pornografia do símbolo do leão
como carrasco dos que se equilibram perigosamente
na rede milionária dos impostos.
A pornografia da fábrica de mortos,
ou das mortes cinicamente adiadas
nos institutos da previdência social.
A pornografia das ricas reservas de ouro,
minério e petróleo,
caracterizando um país rico infestado de miséria.
Censuremos todas estas pornografias que nos aviltam
não a ingênua pornografia que pelos olhos ou pela imaginação
montam suas máquinas monótonas
no espaço supérfluo do nosso sonho.
***
Poema foi publicado originalmente no Correio do Povo, de Porto Alegre, em maio de 1982.
