Obras inacabadas

Em segundo turno, a eleição para governador do Paraná e para incógnitos vices acontece neste domingo. Acirram-se os embates e os debates entre os candidatos. Requião, de acordo com a mais recente pesquisa, ultrapassou seu contendor, Alvaro Dias, depois de ter permanecido quase todo o tempo nos seus calcanhares. Foi decisivo, nessa subida de Requião, ultrapassando Alvaro, o apoio do PT e, agora, abertamente de Lula, enquanto que da propaganda de Alvaro o nome do candidato petista foi reduzindo-se até praticamente desaparecer. Alvaro, por ser do PDT, um dos partidos integrantes da chamada Frente Trabalhista que tentava eleger Ciro Gomes, tinha fundadas esperanças de ser apoiado por Lula no segundo turno. A aliança autorizava esta expectativa, mas, no Paraná, o candidato do PMDB, Roberto Requião, sempre esteve ao lado de Lula por questões ideológicas e amizade pessoal. Amizade e apoio que o próprio Lula expressou em recente pronunciamento. Assim, a disputa entre Requião e Alvaro teria de escudar-se em outro ou outros temas que não a disputa para a Presidência da República entre Serra e Lula. Os dois são Lula, só que Lula é só Requião.

Como tanto Roberto Requião quanto Alvaro Dias já foram governadores do Paraná, restaram como tema principal de debate as obras realizadas em seus antigos mandatos. Além de programas desenvolvimentistas e de cunho social, o que mais destacam são obras físicas, como a construção de rodovias, a Ferroeste e usinas hidrelétricas.

Num Estado como o nosso, rico em energia hidráulica, carente de boas rodovias e ferrovias, porque agrícola e, não obstante ou principalmente por isso, demandando programas de incentivo ao desenvolvimento justo, tais temas são, sem dúvida, capazes de sensibilizar o eleitorado. Daí porque ambos os candidatos a eles se referem com insistência.

Nesse debate, surge uma verdade que deve ser percebida pelos eleitores como algo inescapável. Obras de porte, como hidrovias, rodovias, ferrovias e usinas hidrelétricas, por seu altíssimo custo, extensão e complexidade, quase sempre ultrapassam um mandato governamental de quatro anos. Poucos são os governantes que conseguem realizá-las em uma gestão e aí é preciso que haja grande disponibilidade de recursos, o que sempre temos escassos. Diga-se, de passagem, que a conclusão de uma grande obra de engenharia em um tempo mais curto do que seria de se esperar, às vezes sequer é conveniente, pois a pressa pode demandar mais despesas e comprometer a qualidade da construção. O que é preciso estar atento é para a mentira, candidatos arvorando-se a únicos realizadores de uma grande obra, quando ela foi feita por mais de uma administração. E principalmente para as obras inacabadas, aquelas que começam e ficam no meio do caminho, sucateado o já construído e desperdiçado o dinheiro do povo.

Requião tem sido mais feliz nos debates porque mais incisivo em suas colocações. Também porque tem, agora, a seu lado, a boa vontade da maioria que apóia Lula. E Requião se afina com Lula. Essa afinidade é política e programática, o que é perceptível sempre que são abordados os temas de cunho social. E, como Lula, Requião abriu o leque de apoios, para viabilizar um resultado favorável nas urnas. Vencer Alvaro Dias não será fácil, é briga voto a voto.

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