Os sábios já diziam que a bebida proporciona alegria, e os brasileiros estão descobrindo que, ingerido sem excesso, o vinho também faz bem à saúde, principalmente ao coração. Assim, cientes dos benefícios dessa bebida em relação a outras, como a cachaça, a cerveja ou o wisky, parte das pessoas apreciadoras da bebida com teor alcoólico, tem optado pelo vinho.
O consumo de vinho no Brasil tem crescido a cada ano. No entanto, a invasão de vinhos importados de melhor qualidade e preço, principalmente os franceses, italianos, argentinos e chilenos, que são facilmente encontrados em qualquer supermercado, fez com que nos últimos dez anos os produtores nacionais perdessem aproximadamente 40% do mercado de vinho no País.
A reação dos produtores brasileiros começou nos últimos anos com a importação de mudas de parreira e a introdução de novas tecnologias de produção e plantio. Os primeiros resultados começam a aparecer com a melhoria da qualidade do vinho brasileiro.
Esse aumento de interesse pelos vinhos tem destacado alguns especialistas, como o enólogo, que estuda e entende do assunto, o enófilo, bebedor que aprecia o vinho com conhecimento de causa, e o sommelier, profissional encontrado nos restaurantes que sugere o tipo do vinho e indica as principais opções disponíveis.
Ao lado dessas pessoas, que realmente entendem o que fazem, surgiu outra categoria conhecida como ?enochatos? ou ?enobobos?. É formada por pessoas que fizeram algum curso básico sobre vinho ou que leram em revistas ou jornais, ou ouviram em rádios ou TVs, comentários sobre o assunto, e com estes conhecimentos aproveitam qualquer oportunidade em que se bebe o vinho para expor e alardear seus novos ?conhecimentos?.
E aí seus companheiros de mesa precisam ficar suportando o ?enochato? discorrer sobre a acidez, o solo onde a uva foi plantada, o aroma, o frescor, a carga tânica, a pureza, a cor, o sabor, o bouquet, a fineza, a estirpe, a distinção, como o vinho é encorpado, refinado, sedutor ou qual o melhor vinho para determinado tipo de comida etc.
Nesta mesma categoria encontram-se alguns que exigem certo tipo de taça para beber e esnobam na forma de segurá-la, posando de expert, inclusive devolvendo a garrafa ao garçom sob a alegação de que o vinho não está bom e não são poucos que fazem isso -, após ter cheirado a rolha e o vinho, segurado a taça pela haste, girado e experimentado. Este ritual é tradicional, mas funciona para a pessoa especialista, que sabe diferenciar um vinho do outro.
A esse respeito, recente reportagem trazida por revista de circulação nacional esclarece que não gostar do vinho não significa que ele esteja estragado, mas que a pessoa fez a escolha errada em relação ao seu paladar. Devolver a garrafa é gesto que só se justifica quando o vinho está (1) bouchonné, isto é, a rolha foi atacada por um fungo e liberou cheiro de mofo ou (2) oxidado, quando apresenta aroma de vinagre e alteração da cor.
Assim, se você não é um especialista em vinhos, não seja um ?enochato? ou um ?enobobo?. Não chateie seus amigos com discursos sobre o que você não conhece direito. Com isso você estará contribuindo para que o ritual de beber o vinho não seja confundido com afetação e esnobismo.
O importante é você aproveitar para beber um bom vinho desfrutando de uma boa companhia. E qual é o bom vinho? Bem, cada pessoa tem um gosto, mas, segundo um grande enólogo, o bom vinho é aquele que seu paladar melhor aceita, seu bolso pode comprar e principalmente que você pode beber ao lado de pessoas de que gosta.
José Eli Salamacha é advogado, mestre em Direito e Econômico e Social pela PUC/PR e apreciador de um bom vinho.