Não dá para esconder. Por mais que alguém admire Lula e tenha torcido por uma mudança radical na política brasileira, tem de reconhecer que, pelo andar da carruagem, ou iríamos sair do buraco muito lentamente, ou iríamos direto para o brejo. O governo Lula, além de não oferecer novidade nenhuma, a não ser o fenômeno de um trabalhador, líder sindical, oriundo de família paupérrima, ser alçado à Presidência da República, estava andando muito devagar. Tão lento que até a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil reclamou. E deve ter feito suas orações para que um milagre levasse a nova administração a caminhar mais depressa. Melhor ainda, que corresse, antes que o desemprego e a miséria, a perda das esperanças e da confiança, levasse o povo a agitações sociais, para não imaginar revoluções.
O que o governo do PT fez até agora foi repetir na área econômica o governo FHC. No mais, discursos e propaganda. Promessas e mais promessas para serem cumpridas, sempre no futuro. Já passou um ano e dois meses e, como disse um de seus raros opositores, o governo não construiu nem uma sala de aula.
O projeto de Lula, se é que tinha algum, era reduzir substancialmente ou eliminar a dívida externa, não importa quantos brasileiros caíssem nesse campo de batalha, para só então começar a governar. E os prognósticos são de que isso só poderia acontecer no próximo governo.
Mas há males que vêm para o bem. Descobriram no Palácio do Planalto um auxiliar do todo-poderoso ministro José Dirceu, o gerente dos ministros e, por isso, considerado um primeiro-ministro, o petista Waldomiro Diniz, cuja função principal era negociar com os congressistas. No passado, foi presidente das loterias do Rio de Janeiro, no governo também petista de Benedita da Silva. Esse auxiliar, nas horas de folga, ou tempo integral – não se sabe -, dedicava-se a achacar bicheiros para financiamento de campanhas eleitorais de petistas e aliados. E para encher o próprio bolso. Existem fundadas suspeitas de que sua ação criminosa não tenha se encerrado com o fim da campanha eleitoral, mas prosseguiu quando já fazia parte da equipe de Dirceu, portanto, de Lula.
Surgiram inquéritos policiais na Polícia Federal, nas estaduais, CPI na Assembléia carioca e pedido de CPI no Congresso, providência que Lula e seu governo não querem ver concretizada de jeito nenhum. Vai expor o governo a ataques que poderão colocar seu prestígio, já em queda, no fundo do poço. A solução foi o governo optar por uma “pauta positiva”. Isto quer dizer que, por causa do Waldomiro, o governo decidiu andar mais rápido, acelerar, começar a fazer coisas em favor do País, do seu povo, já e agora.
Lula tem falado com vários presidentes de países importantes, pedindo apoio para a sua tese de que o Fundo Monetário Internacional não deve considerar como despesas dedutíveis dos superávits fiscais prometidos o que for empregado em infra-estrutura. Com isso, poderia pagar menos juros e investir mais no desenvolvimento do País. Lançou um programa que pode incentivar a construção civil, aliás um projeto que dormia no Congresso há mais de dez anos. E todos sabem que a construção civil é a maior absorvedora de mão-de-obra. Portanto, um bom começo para reduzir o desemprego, que hoje é recorde e, na campanha, prometia-se que seria eliminado com a criação de dez milhões de postos de trabalho.
Desempregado também ficou o Waldomiro, um herói às avessas que perdeu o emprego e, quem sabe, vai acabar na cadeia.