O último romântico

Aos 81 anos de idade, depois de 49 anos de exercício do poder absoluto em Cuba, condição herdada da vitória da guerra revolucionária contra a ditadura de Fulgêncio Batista e da entrada triunfal dos guerrilheiros em Havana, a 1.º de janeiro de 1959, graves problemas de saúde retiraram o comandante Fidel Castro do cenário político mundial. O irmão Raúl, de 76 anos, há um ano e meio respondendo pela chefia interina do governo, será confirmado no cargo de presidente da República, no próximo domingo.

É o fim do mais longo governo revolucionário conhecido no mundo, bem como o ocaso forçado do último líder romântico da política mundial, genuíno mito forjado pelos ideais libertários que galvanizaram o ímpeto iconoclasta, especialmente da juventude, quando do início da segunda metade do século passado.

A maior frustração do comandante foi não ter conseguido implantar na ilha o modelo do socialismo tropicalista que sempre pretendeu, sobretudo com o corte do auxílio financeiro sistemático recebido da União Soviética, a fim de contrabalançar o rancoroso bloqueio econômico decretado pelo governo dos Estados Unidos. Apesar dos êxitos reais obtidos na educação, esporte, saúde, entre outros, Cuba retrocedeu a olhos vistos em termos de habitação, saneamento básico, comércio internacional e cultura, entre tantas outras perdas de monta.

Todavia, o mais acabrunhante dos prejuízos, muito mais negativo que quaisquer dos citados, se verificou no campo das garantias individuais, da liberdade de expressão e até de pensamento. Os que ousaram divergir do pensamento hegemônico determinado, na maioria das vezes, pelas idiossincrasias do comandante supremo, afinal tão ou mais ditatorial que o pusilânime Fulgêncio Batista, passaram a arcar com a infamante pecha de inimigos do regime.

Os não-eliminados fisicamente, foram trancafiados em masmorras nauseabundas para evitar que contaminassem com seu espírito de liberdade a ?ordeira? sociedade cubana, ao passo que outros milhares enfrentaram o risco de perder a vida na tresloucada tentativa de se lançar ao oceano para alcançar as praias da Flórida.

A influência ideológica exercida pelo messianismo castrista medrou com o passar do tempo e se extinguiu por completo ante o fracasso da revolução. Espera-se agora, com a participação de governos responsáveis e solidários, a transição pacífica e segura para a democracia, único regime que pode restabelecer ? em proporções iguais ? a liberdade e as oportunidades pessoais, sem aviltar ainda mais a consciência de um povo marcado por sofrimento e privação.

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