Seis reais e cinqüenta centavos. Este é o valor da minha compra na farmácia. A jovem de vinte e muito poucos anos, envolta por gomas de mascar, tabletes, chocolates, lâminas de barbear, pilhas para rádio, supérfluos em geral, uma porção de máquinas de passar cartões de crédito e débito e uma caixa registradora, cumpria seu papel de caixa.
Onze reais e cinqüenta centavos foi o valor que lhe entreguei, acostumado com aquele apelo de "facilite o troco". Um rápido olhar para mim, misto de surpresa e, digamos, um pouco de chateação, e seus dedos já digitaram a calculadora ao lado para chegar ao mesmo cálculo que eu fiz ao dar-lhe os onze reais e cinqüenta. Deve ter pensado: "Tem lógica. O troco são exatos cinco reais!".
Uma revista e um jornal, sete reais e trinta centavos mais três reais. O jovem que estava atendendo, de aproximadamente vinte anos, foi à calculadora e me disse: "Dez e trinta". Eu já havia colocado onze reais sobre o apertado balcão e estava esperando o meu troco. Ele novamente consultou a sua sábia calculadora a qual lhe confidenciou: setenta centavos de troco.
Numa outra compra maior, bradei enérgico: "Pago à vista, mas quero um bom desconto. Esses 5% não me servem."
O jovem vendedor foi ao gerente, o qual disse que daria 10%, o que, nessa compra de quatrocentos reais lhe dá…. (calculadora)…quarenta reais só de desconto!
Estou ficando preocupado com esses jovens. A sua aritmética trivial, diária, caseira, está dentro da calculadora e não mais dentro dos seus cérebros. Ninguém é obrigado a fazer contas de cabeça e, ainda mais, errar no troco. Mas em situações tão simples, a dependência da calculadora é um sintoma moderno, mas pode ser revelador da perda da noção dos números, quantidades, valores, dimensões.
Quem desenvolveu a sua aritmética mental sempre tem noção de quanta gente é 10% da população de sua cidade, ou 10% da gorjeta do garçom.
No entanto, é impressionante a dificuldade com as medidas de distância. Se sabe que de Curitiba a São Paulo de carro são mais ou menos 5 horas. Falou em 400km, já fica difícil, mas vá lá que até se saiba. Mas quantos metros mais ou menos têm de largura um determinado espaço, já é algo muito complexo. Metros quadrados, então, é coisa para gênios ou para aqueles que usam esse conhecimento como ferramenta de trabalho.
Isso tudo faz parte de uma transformação que deve ser melhor administrada na educação. A fórmula pronta do computador, ao mesmo tempo em que garante a correção dos cálculos, corrói a capacidade de raciocinar, de criar, e de saber, que são as maravilhas da mente humana.
Nossa sabedoria, e com ela nossa sensibilidade, nossa capacidade de amar, de respeitar, vai passando para dentro da máquina. A máquina passa a ser a verdade única para o indivíduo, até o dia em que ele acaba de jogar um videogame, toma uma arma e vai a um cinema e mata cinco pessoas.
Em tempo: não quero ser injusto com os cobradores do pedágio. Eles já estão dando o troco certinho, sem apelar para a calculadora.