O troco de Itamar

Há poucos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao se referir ao ex-presidente Itamar Franco e à sua opção de apoiar a candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência da República, disse que uma pessoa ao chegar aos 75 anos tem o direito de fazer qualquer coisa. Uma referência maliciosa, a princípio, que acabou se transmutando num desrespeitoso tratamento a homens e mulheres encanecidos que tiveram a ventura de chegar a essa altura avançada da vida, após darem cada um sua contribuição para construir o País que hoje temos.

O troco de Itamar continua tinindo aos ouvidos de Lula e a buzinada mais recente veio na forma da apreciação do ex-presidente à proposta de convocação da Assembléia Nacional Constituinte exclusiva para discutir e aprovar a reforma política, depois das eleições de outubro.

?O presidente precisa aclarar melhor as suas idéias?, disparou Itamar Franco, oferecendo também um oportuno conselho, típico da matreirice mineira que tão-somente os escolados conseguem saber se foi para ajudar ou enterrar mais depressa. Itamar comentou, e poucos sabem com que intenções reais, que se Lula tem dificuldade para identificar a linha de separação entre o presidente e o candidato, a melhor decisão seria pedir licença do cargo e ficar à vontade para fazer campanha. E ajuntou uma pérola do pensamento enigmático dos varões das Alterosas: ?Ora, é certo, a linha divisória é invisível?.

Nem o mais traquejado cartunista teria imaginado transpor para o papel uma idéia tão sibilina, sem deixar de ser elegante; tão bombástica, sem deixar de ser um tapa de luvas. Aliás, a proposta do presidente, que o conselho federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) analisa neste final de semana, foi minimizada pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), presidente da Câmara Federal, para quem o Congresso está em condições de votar a reforma ?pela quantidade de elementos disponíveis?.

O mais enfático em atirar contra a formulação de Lula, entretanto, foi o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Velloso, ao proclamar que o desejo de convocar uma Assembléia Nacional Constituinte exclusiva ?cheira a golpe?, porquanto essa tem sido a práxis de todo político com vocação para César. ?Foi o que aconteceu com Pinochet, no Chile, e Chávez, na Venezuela.? Velloso fez questão de frisar que não pensa isso de Lula, mas a pancada deve ter doído…

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