Aproxima-se o 11 de setembro, dia em que se realizou o maior atentado terrorista de que se tem notícia, com o choque de aviões contra os dois gigantescos prédios do World Trade Center, em Nova York. O atentado, atribuído à Al-Qaeda, organização terrorista comandada por Bin Laden, saudita que se refugiava no Afeganistão, causou mais de 1.600 vítimas na maior cidade norte-americana. Vítimas também foram milhares de afeganes, com a guerra empreendida pelos Estados Unidos naquele país, derrubando o governo talibã que apoiava a Al-Qaeda. Vítimas também, em quase todo o mundo, muçulmanos inocentes que, por sua religião, passaram a ser suspeitos; árabes em geral, mesmo não-muçulmanos, e ainda pessoas de outras nacionalidades que a ignorância de autoridades ocidentais confundem com árabes-muçulmanos. É legítimo imaginar que nos Estados Unidos exista, no momento, uma justificável tensão, pois têm sido divulgadas novas ameaças de atos terroristas e suspeita-se que Bin Laden está vivo e viva também a organização terrorista que lidera.
Piora a situação entre Israel e os palestinos, mantendo-se assim a fogueira de onde saltaram as faíscas que levaram ao histórico atentado do WTC. Mandela, ex-presidente da África do Sul, líder na luta contra o “apartheid”, que esteve preso por muitos anos por clamar por justiça para os negros do seu país africano, é um homem respeitado em todo o mundo. É uma das mais expressivas figuras públicas do século passado e ainda deste século, no qual continua a influir com sua experiência e sabedoria. Por ocasião da realização da conferência Rio+10, em Johannesburgo, ele declarou à imprensa que está aterrorizado com a política dos Estados Unidos e do governo Bush em relação ao Iraque. Como se sabe, o insensato presidente dos Estados Unidos está ameaçando atacar o Iraque para tirar do poder o ditador Saddam Hussein, a quem acusa de desenvolver armas químicas. Para Bush, alguns países constituem o “eixo do mal”, dentre esses o Iraque. É verdade que Saddam Hussein é um ditador e que, por interesses petrolíferos, invadiu o pequeno Kuwait, quando, sob os auspícios da ONU e com massivas forças dos Estados Unidos, o Ocidente declarou guerra ao Iraque. Depois disso, por imposição da ONU, organizou-se uma equipe de investigação para verificar se era verdadeira a versão de que o governo Hussein desenvolve armas químicas. A comissão foi obstaculizada pelo governo iraquiano e expulsa do país. Hoje, Saddam admite uma nova investigação, mas exige que os investigadores sejam de várias origens, inclusive europeus e ainda religiosos e jornalistas. Diz temer um relatório distorcido, influenciado pelos Estados Unidos.
Bush arvora-se no direito de derrubar Saddam Hussein do poder, como se seu governo e seu país fossem os divinos guardiães das forças do bem. Satanizam os governos que consideram apoiadores dos terroristas, dentre eles o do Iraque. “Estamos sinceramente aterrorizados com o fato de que todo um país, quer se trate de uma grande potência ou de uma pequena nação, possa atacar um país independente sem consultar as Nações Unidas”, declarou Mandela.
E sabiamente concluiu: “Nenhum país deve ser autorizado a fazer sua própria lei”, impondo-a aos outros. Mesmo que não se tenha nenhuma simpatia por Saddam Hussein, é certo que Bush não tem o direito de colocar outro país e o mundo em perigo, coroando-se como salvador da humanidade.