As informações vindas de Brasília relativas à reforma ministerial que se arrasta além do previsto e anunciado lembram a história do sofá da sala. Cansado de ser traído, o marido mandou tirar do ambiente o instrumento sobre o qual a traição era sofregamente praticada. A história termina aí e não conta, mas sugere, que em outro lugar os fatos se sucediam. Apenas o marido não tinha contra quem se vingar.
Pelo motivo de seus programas sociais não terem dado certo, o presidente Lula estaria disposto a criar um novo ministério. Com o nome de Ministério do Desenvolvimento Social. Ou Ministério das Políticas Sociais. A nova pasta viria em substituição a outros dois ministérios criados faz um ano – o da Segurança Alimentar, nas mãos de José Graziano; e o da Assistência e Promoção Social, comandada por Benedita da Silva – a que foi rezar em Buenos Aires com o dinheiro dos contribuintes brasileiros. Tanto Graziano como Benedita, entretanto, não sairiam do governo. Apenas iriam para outros postos. Talvez até mesmo no novo ministério.
Há um outro problema: a Secretaria Executiva do Bolsa Família. O pessoal que ali trabalha com status de ministério desde a última “reforma” torce o nariz quando alguém sugere que devam passar para alguma eventual futura pasta. Acham que estão fazendo a lição de casa e temem cair na teia da burocracia ministerial – sempre a mesma com qualquer nome. Dizem que Lula estaria disposto a manter sob sua guarda e ordem o programa que é a menina (por enquanto bastante míope) de seus olhos.
Segundo consta, a equação está difícil de resolver à conta das discussões internas no núcleo do poder – uma característica do PT que não é nova. Lula imagina algo factível, mas alguma corrente não aceita. Algo assim como o que aconteceu com José Dirceu, que afirmou que a autonomia do Banco Central não está no programa de debates deste ano e, dia seguinte, teve que engolir o que dissera a pedido de Lula. O PT não aceitaria, por exemplo, entregar o filão social ao PPS de Ciro Gomes, o preferido por Lula para comandar o novo ministério, entregando o da Integração Social ao PMDB, que continua batendo forte na tecla do “toma-lá-dá-cá”…
O fato é que já estamos em meados de janeiro. Daqui a pouco é fim do primeiro mês do novo ano – o ano em que Lula prometeu sair do aprendizado e passar à ação. No ritmo em que as coisas (não) acontecem, consolida-se exatamente um cenário oposto ao do quadro pintado pelo Lula de antes, segundo o qual quem tem fome e passa necessidade não tem tempo de esperar pelo amanhã. Precisa ser socorrido ontem.
Ademais, está na hora de se acolher a tese segundo a qual é a credibilidade das instituições que faz a diferença entre o primeiro e os demais mundos. Lá, o nome não importa muito, dando-se preferência ao que é feito ali dentro. Às vezes com uma rotina centenária. Ficamos nesse abre-fecha (fecha a Sudene, reabre a Sudene!) a cada troca de governo e, agora, já a cada virada de ano, como se isso fosse criar empregos, diminuir impostos, girar a economia e produzir o espetáculo do desenvolvimento. Isso era coisa que Lula e sua equipe deveriam ter pensado nos meses de transição. Agora, até por medida de economia, seria bom deixar de brincadeira e honrar os papéis timbrados e oficiais já impressos às toneladas e pagos com o dinheiro público, trocando quem não trabalha ou quem não funciona – onde, de fato, está o problema.
É o sofá da sala. Alguém precisa dizer a Lula que não é trocando o nome do órgão, apenas, que ele vai resolver o problema. Que, geralmente, o nome dado às coisas não transforma a natureza delas. Assim como não é o nome de Lula na presidência, por si só, que fará um Brasil melhor.
