O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pouco ou nada falou depois das eleições municipais. Parece que ele não gostou dos resultados do pleito. Não importam as manipulações com números, mostrando um município de duas ou três ruas onde o governo obteve vitória, como se pudesse ser comparado a grandes cidades, algumas verdadeiras metrópoles.
O PT cresceu, mas perdeu no “sul maravilha” e no principal município do Brasil, São Paulo, onde já detinha a Prefeitura. Lula empenhou-se pessoalmente na campanha. Tanto que ultrapassou os limites legais, sendo punido pela Justiça Eleitoral por fazer propaganda de Marta Suplicy em São Paulo, durante um evento oficial. Empenhou-se também em várias outras cidades onde se realizaram eleições em segundo turno, inclusive em Curitiba. Dolorosa foi a derrota em Porto Alegre. O PT já havia perdido o governo gaúcho, com a derrota de Olívio Dutra, consolado depois com um ministério, e, depois de 16 anos chefiando o Executivo municipal porto-alegrense, foi derrotado.
Assim, o governo perdeu no Brasil mais desenvolvido e mais populoso. E teve vitórias mais ou menos expressivas nos estados pobres do Nordeste e Norte. Venceu, é verdade, em grandes cidades, como Fortaleza, mas não dá para esquecer que ele não apoiou a candidata petista e tudo fez para que ela não concorresse. E ela é a prefeita eleita.
O PFL, que já foi o grande partido dos poderosos, dos ricos e do qual se dizia que o Diário Oficial da União era o seu jornal, vem encolhendo. E o PMDB desaparecendo, depois de ter sido o “maior partido do Ocidente”. Neste governo, agarrou-se ao poder, exigiu posições, ganhando dois ministérios, foi capaz de unir líderes que pareciam irreconciliáveis de suas várias alas e desapareceu como grande agremiação política. Ganhou em lugares importantes, mas está há quilômetros do gigante que foi com Ulisses Guimarães.
A oposição passou a ser encarnada pelo PSDB e a vitória de Serra em São Paulo é um empurrão importantíssimo para a candidatura do governador Alckmin à Presidência da República no próximo pleito, concorrendo com o próprio Lula, candidato nato à reeleição. O silêncio, se não é decepção, é de preocupação. Terá de realinhar o governo, com uma reforma no ministério. Poderá perder o apoio do PMDB, que está pensando em buscar sua própria tábua de salvação, ao invés de funcionar como pingente do governo. E terá de remendar seu precário apoio parlamentar, até aqui de difícil manipulação. Apoio constituído de híbridas alianças e habitual em repetidas cobranças para votar matérias de interesse do Executivo. Lula deve estar pensando que tem de reunir uma base parlamentar sólida, que seja capaz de aprovar as reformas do governo. E a um preço, se possível, menor do que o que tem sido despendido até aqui na política do “toma lá, dá cá”.
Começando a entrar no último período de sua administração, sem muitas promessas de campanha cumpridas ou realizações expressivas, terá o governo Lula de procurar maior eficiência, sair das promessas para os planos e destes para os projetos em realização ou concretizados. O eleitorado, com os resultados deste pleito municipal, deu um aviso de que o governo nem tudo pode e está na berlinda. Foi parcialmente contestado nas urnas. Este resultado poderá se repetir ou até ser pior na sucessão presidencial.