?Um enterro de quinta categoria?, foi a comparação usada por senador que preferiu ocultar-se no mutismo, aliás, como se recomenda aos momentos de luto fechado, descrevendo a renúncia do senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), apresentada à mesa diretora da Casa por meio de uma carta lida da tribuna pelo colega piauiense Mão Santa.
Alvejado gravemente desde a divulgação da conversa telefônica gravada com o ex-presidente do Banco de Brasília, Tarcísio Franklin Moura, nomeado por Roriz num dos mandatos de governador do Distrito Federal, o senador não conseguiu se libertar do lamaçal em que se embrenhou ao tentar explicar sua participação na partilha dos R$ 2,2 milhões ?emprestados? pelo empresário Nenê Constantino, dono da Gol.
Franklin não é flor que se cheire. Está preso e responde a processos por desvio de recursos do Banco de Brasília, além de formação de quadrilha, peculato e lavagem de dinheiro, com respingos inevitáveis sobre o próprio ex-governador.
Desde o desalinhavado discurso da semana passada, Roriz passou a ser motivo de chacotas no Congresso e, a rigor, em nenhum momento contou sequer com a solidariedade protocolar da bancada do PMDB. Solitário, aceitou a tese da renúncia aconselhada pelos íntimos e pediu a Mão Santa que lesse a carta, decerto para evitar o desprestígio de mais uma vez falar para um plenário vazio.
A renúncia evitará para Roriz a perda dos direitos políticos até 2022, caso tivesse o mandato cassado por sugestão do Conselho de Ética. Assim, poderá se candidatar novamente em 2010. Sua vaga será ocupada pelo primeiro suplente, o petebista Gim Argello, réu em cinco ações e inquéritos judiciais que apuram crimes contra o sistema financeiro, execução fiscal por dívidas com a Receita Federal e prejuízos à Câmara Legislativa do DF, que presidiu entre 2001 e 2002.
O contexto é devastador e mostra a agressividade da podridão moral sobre o parlamento brasileiro, hoje, verdadeira zona sombria que dissimula número não pequeno de malfeitores protegidos pelo sufrágio universal, obtido sabe-se bem de que maneira. Saiu o roto para entrar o esfarrapado…