O risco-Brasil

Querem o Banco Central e alguns arautos do governo que o risco seja a conseqüência da instabilidade momentânea ditada pelo processo eleitoral. Mais que isso: que essa instabilidade seja motivada pela persistente cavalgada do PT e de seu tetracandidato Lula da Silva nas pesquisas de opinião. Afinal, uma eventual administração comandada pelo barbudo, mesmo vestido de terno bem talhado e passado, será sempre uma incógnita. Assim, nada mais natural que surjam esses sinais, sempre comandados de fora para dentro para que o efeito seja mais devastador.

Por sua vez, quer o candidato que até aqui lidera a corrida eleitoral (embora nada nos garanta que a ganhe no final) que essas oscilações de confiança do mercado financeiro, que ultrapassam os três dígitos, sejam conseqüência de uma certa dose de irresponsabilidade e de arrogância dos que dirigem o Banco Central, a política financeira e, mesmo, a própria República. O presidente FHC precisa puxar a orelha de seus subordinados – brada Lula diante dos microfones – e tem que proibir que qualquer funcionário venha a público para dizer disparates.

Enquanto isso, o dólar dispara, fazendo a alegria de quem tem negócios com a moeda americana e obrigando o BC a desovar generosos estoques do Tesouro Nacional, amealhados à custa de nosso suor e lágrimas sob a forma de CPMF, IR, IOF e outras contribuições e impostos mais. E, na confusão, o risco-Brasil – aqui já sem origem ou causa definida – aumenta a cada dia, deixando, como é moda dizer ultimamente, o mercado mais nervoso que de costume. Se há controvérsias sobre suas causas (do tipo se primeiro veio o ovo ou a galinha), ninguém duvida das naturais conseqüências, que se espraiam no desemprego, na estagnação, na ampliação da miséria, na carestia e tudo o mais.

Vítima dessa enxurrada de notícias ruins (afinal, tão beócios os brasileiros não são, já que capazes de perceber que o resultado prático de tudo isso é o aumento das dificuldades de sobreviver), o eleitor mediano já começa a perceber que o maior risco para o Brasil é exatamente esse tipo de campanha eleitoral que não discute programas, não anuncia saídas, não ensaia soluções, mas fica no debate do trivial achismo de cada um, que é formulado ao sabor de suas conveniências do momento. Quais salamandras pegajosas, capazes de assumir a cor do ambiente em que se encontram, certos candidatos estão simplesmente irreconhecíveis.

O verdadeiro risco-Brasil, de fato, estaria nesse arremedo de campanha eleitoral, incapaz de colocar um diferencial nos candidatos até aqui sabidamente diferentes; nessa promiscuidade de “acasalamentos” partidários antes inimagináveis; nessa falta de coragem de mostrar a bandeira que cada um carrega ou no oportunismo de escondê-la para enganar o eleitor. É próprio do jogo democrático a transparência nas propostas, nos programas, nas diferenças e nas soluções. Esse que estamos assistindo, até aqui, é um “me engana que eu gosto”. Eis o verdadeiro risco-Brasil que todos corremos.

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