Sentado à frente do computador, veio-me à cabeça o trabalhador brasileiro, um forte admirável, mas um injustiçado e sofrido trabalhador brasileiro. Concluí que, embora pareça óbvio e se esqueça ao mesmo tempo, uma verdade deve ser dita: o trabalhador não pode ser considerado apenas aparelho de produzir lucros, uma vez que possui sentimentos e inteligência; tampouco, é escravo da máquina. Torna-se conveniente que ele receba estímulos positivos. Só assim será capaz de gerar interesse nos demais companheiros da mesma área de trabalho. Contudo, cabe ao gerente ou empregador dar início a tal processo.

Pensando bem, o trabalhador deve ser colocado no devido lugar – o primeiro lugar – a fim de que se descubra nele o potencial que tem, valorizando-se o homem (e a mulher) em qualquer nível profissional, dirigindo suas aptidões para proveito da equipe de trabalho, da empresa e da sociedade. Uma atitude que seria o combustível, tipo cooperação (que de fato está faltando), para acionar o foguete que levaria nosso Gigante Sul-Americano para o alto do desenvolvimento e da justa distribuição da riqueza nacional. Capital e trabalho ligados – realmente juntos. Enfim, o auxílio decisivo em favor da união nacional há muito pretendida. E por que estas coisas não acontecem? Não há segredo, mas falta vontade. Lamentável! Enquanto os olhos não forem bem abertos para isso, será difícil, muito difícil. Evidentemente, existem outras coisas que faltam e merecem consideração; afinal, administrar e governar bem depende de um elenco de providências, algumas delas complicadas.

Antes de outra coisa, um grande propósito deve motivar a economia: o homem. E assim deve ser. Com ele (não apenas através dele), atinge-se o que se busca, desde que não se deixe de lado importante trinômio ético: ser solidário, honesto e leal. De fato, não pode haver sucesso completo sem esses predicados morais, incluindo uma indispensável grande dose de espírito de cooperação. Tudo em benefício de uma sociedade mais justa e humana e da recuperação da nossa fraca (e dependente) economia, enfraquecida pela sangria dos dólares (uma monstruosa dívida) que, por uma operação dolorosa, é injetada nas artérias econômicas de outros países mais robustos. Não é estranho? – somos nós que precisamos transfusões…

Vale citar aqui uma nova filosofia, vinda da Ásia, que prevê concentrar dedicação aos poucos problemas vitais do trabalho e reduzir esforços em muitos aspectos insignificantes. Essa visão, em conjunto com a de atribuir maior valor ao homem (ou criar condições favoráveis para uma estreita cooperação entre interesses que não são iguais), abrirá o caminho para as condições satisfatórias gerenciais com a finalidade da construção de um alicerce reforçado que permita a reconstrução de nossa economia, que padece de mal crônico. Esta doença pode efetivamente chegar ao fim (ou ser aliviada), e o enfermo mostra que tem muito a nos oferecer. Só o homem poderá curá-lo. Saudável, quem pode segurar nosso querido Gigante? Ninguém, ninguém mesmo. Ele é forte e possui uma determinação como poucos.

É esperar e ver, pois a noite está terminando (pelo menos, quem não deseja que ele termine?) e a luz da manhã logo poderá começar a espreitar pela janela da esperança, que se abriu como o novo governo, mas que, se a chuva torrencial da política egoísta e impensada vier, corre o risco de ser fechada. Entretanto, nada melhor do que acreditar no homem – promovê-lo, valorizá-lo. Sem dúvida, seria um sinal de visão e inteligência (de cooperação) dos empresários em geral, prevenindo temporais que podem fazer estragos. Por outro lado, os empresários também precisam da cooperação daqueles que têm nas mãos a condução da política econômica nacional. E isso tudo junto pode ser um problema. Pode e é. Que tal um pouco de criatividade para resolvê-lo, começando pela palavra cooperação, tão repetida nestas linhas? Enfim, nada se faz bem sem o concurso de todos – do governo ao fim da linha da sociedade.

Bráulio José Simões é escritor.

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