Em 1992 – quando no PT de Curitiba ninguém queria ser candidato – topei a parada e fui, em nome do partido, disputar a Prefeitura. Naquele tempo, além de não termos dinheiro, existia uma cultura anti-PT.
Num dos debates na televisão (naquela ocasião havia mais debates que hoje), um dos candidatos perguntou ao outro o que é cultura. O cidadão enroscou, gaguejou e não conseguiu dar uma definição ou exemplo do que é cultura.
Creio que uma das definições – e é simples – que pode ser dada é que cultura é o que fazemos e o que sofremos. Talvez fique melhor definindo que tudo o que fazemos é fruto de uma cultura anterior e que ao mesmo tempo em que estamos fazendo estamos reproduzindo essa cultura ou criando uma nova cultura.
Quem tem lido, semanalmente, meus textos pode ficar com a impressão que sou um conservador ou um saudosista, ou até um chato que fica batendo na mesma tecla: as mudanças no mundo. Não as mudanças científicas e tecnológicas, mas as da cultura.
Certo que o mundo evoluiu e evolui – e, por que não?, às vezes regride – em todos os sentidos, inclusive (costumes) culturalmente. Mas meu registro é que hoje evolui para uma cultura global e do tudo igual e de pior qualidade. As músicas, costumes, alimentação, etc, diferentes e localizadas em regiões distantes ou em qualquer canto do mundo, são imediatamente exploradas. Não é colhida essa cultura local para ser admirada, conhecida e conservada, mas sim para dar um trato ?holiudiano?, que é mais palatável no mundo, para vendê-la e tirar o maior e mais rápido proveito (lucro) econômico.
Podemos mostrar como isso ocorre através da mais simples observação e sem sair de nossa casa. Nas TVs é tudo igual ou semelhante. A chamada casa dos artistas é o mesmo big brother e que é o mesmo estilo de programa no mundo todo.
Dentro de casa ainda é possível observar os objetos (bibelôs) que a enfeitam ou os móveis que a compõe. São iguais aos que aparecem em filmes, principalmente, americanos. Repare a maneira de se vestir, independente de classe social (roupas de grife, verdadeiras ou pirateadas), dos adolescentes. Saindo à rua, a coisa piora: as marcas são as mesmas e agora até as paradas (pontos) de ônibus urbanos são iguais no mundo todo.
Nesse mundo tão igual, a maior vítima é a criança e o adolescente (apesar que estes sabem tudo) que, sem senso crítico e sem dinheiro, entram no mercado de consumo. Sem senso crítico são vítimas do mau gosto, como, por exemplo, esses horríveis penteados de topetinhos que os pré e adolescentes usam. Sem dinheiro, num mundo onde a propaganda vende tudo, inclusive as mulheres mais bonitas, tem-se que consumir. Na ânsia de consumir e sem dinheiro para comprar, o jovem busca caminhos transversos para obter a mercadoria que deseja, podendo, às vezes, ser inclusive a violência.
Onde está a dignidade cultural do nosso povo se, mesmo dentro das escolas, às vezes públicas, inclusive, se festeja o dia das bruxas e não mais as festas de São João, Santo Antônio e São Pedro?
Na política não é diferente. O PT, que veio para criar uma nova cultura política, combater os conchavos e a maneira de atuar, está caindo na vala comum do tudo igual. Ao invés de romper com a mesmice (cabo eleitoral pago, falar aquilo que o eleitor quer ouvir, dar as famosas lingüiçadas, etc.) acabou por adotá-la. Nessa mesmice, corre-se o risco de, e ao perguntar a algum candidato, inclusive do PT, que é cultura, ser bem possível que alguns respondam que cultura é aquilo que os Estados Unidos fazem e nós compramos nos mercados ou vemos nos cinemas.
Dr. Rosinha é médico, deputado federal (PT) e presidente da Comissão do Mercosul.